sexta-feira, 22, novembro, 2024

Moradores da Zona Norte da cidade se sentem abandonados pelo poder público

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Da redação

Os últimos três anos têm sido de muitas dificuldades para os moradores da Zona Norte de Araraquara, principalmente da região do Jardim Roberto Selmi Dei que compreende os novos núcleos habitacionais como o Valle Verde, Laura Molina, Anunciata e Romilda Barbieri.

A presidente da Associação dos Moradores do Bairro Jardim Roberto Selmi Dei, Aline Soares, reuniu alguns representantes dos setores que formam o grande bairro para que eles pudessem transmitir sua insatisfação com a falta de estrutura básica da região, principalmente nos novos núcleos habitacionais que foram entregues pela administração municipal passada sem o aparelhamento público necessário como postos de saúde, escolas e creches.

“Os postos de saúde, as creches e as três escolas do Selmi Dei não comportam a grande demanda de pessoas que se instalaram na região com a entrega das casinhas do Minha Casa Minha Vida. Fizeram as casas, mas não estruturaram os novos bairros e agora não temos vagas para os nossos filhos nas escolas, nas creches e, ainda pior, os postos de saúde do Adalberto Roxo e do setor 4 do Selmi Dei não suportam toda a população da região, por isso, muitas vezes chegam a colocar uma placa na frente do prédio dizendo que não atendem moradores do Valle Verde. Isso faz com que as pessoas utilizem a UPA do bairro como se fosse posto de saúde. Além disso, a UPA ainda atende moradores de Américo Brasiliense. Outro problema grave vivido pelas famílias do bairro é que muitas crianças vão para a escola só para se alimentarem. No mês que vem começam as férias escolares e já estamos pensando como podemos ajudar ”, resumiu Aline.

Diretoria da Associação, pede ajuda da sociedade e empresários para que possa alimentar as crianças durante as férias. Foto: O Imparcial

Crianças no crime

O comerciante Samuel Adriano de Siqueira, que possui uma lanchonete no Valle Verde, destacou a falta de opções de lazer e cultura que leva as crianças da região ao crime. “Vejo muitas crianças e adolescentes consumindo drogas e até mesmo se envolvendo com o tráfico aqui no meu bairro. Isso é muito ruim, mas, muitos entram para essa vida por falta de opção. Também fico triste quando vejo outras crianças coletando materiais recicláveis pelas ruas para levar o pão para a casa. Nos últimos anos cresceu muito o número de pessoas pedindo comida no bairro. Isso mostra a falta de estrutura dessas famílias que foram escolhidas para receberem as casas. O duro é que somos vítimas de preconceito com os moradores mais antigos, chegando ao cúmulo de não sermos atendidos no posto de saúde do setor 4. Falta um projeto social, falta cultura no bairro. Estamos perdendo nossas crianças para o tráfico”, desabafou o comerciante.

Fernanda Araújo e Aline Honorato, que moram no setor 5, estão assustadas com o tráfico de drogas. Elas relataram para a reportagem do O Imparcial que há crianças de 7 e 9 anos fazendo vendas de entorpecentes nas esquinas do bairro e pedem com urgência políticas que possam ocupar o tempo delas. “Não há uma praça, uma área de lazer nesses bairros, temos apenas a Associação, mas também não temos apoio da sociedade ou do poder público, para que possamos mudar o rumo da vida dessas crianças que, muitas vezes, ficam sozinhas, pois os pais trabalham e eles ficam à mercê do tráfico. Outra situação que traz à tona a atuação de milícias no bairro, é o baixo número de furtos e, quando ocorrem, as ‘correções’ são feitas pelo ‘disciplina’ do bairro. Até mesmo mulheres que são vítimas de violência doméstica são orientadas a não chamar a polícia, pois esses homens são chamados pelos ‘chefes’ do bairro e os incidentes não acontecem mais. Problemas que deveriam ser solucionados pelo Centro de Referência da Mulher, atualmente são resolvidos pelo tráfico. As mulheres do bairro são unânimes em dizer que não há projetos dessa Secretaria em relação a elas”.

Para Tânia Ribeiro, a violência está entrando também no CAIC do Selmi Dei. Ela destaca que qualquer um entra na escola e lembra do fato de uma mãe de aluna entrar na escola e ameaçar outra criança por ela ter discutido com sua filha. “Chegou na porta e diz que vai na secretaria entra, e assim sendo as crianças não se sentem seguras enquanto estão em aula”, ressaltou Tânia, que também tem filho que estuda nessa entidade. Disse ainda que o trânsito no local em horário de entrada e saída das crianças é um absurdo e não há um único agente para orientar. “Enquanto uma criança não morrer atropelada, ninguém vai olhar por essa rua”, desabafou.

Já Ana Paula da Silva que é moradora do Valle Verde, disse que há um projeto de um Condomínio na região (Ibirás) e a contrapartida desse empreendimento será a construção de uma escola. Ela diz também que participa das reuniões da OP, onde se colocou em discussão a construção de uma escola e um Posto de Saúde para o bairro, mas quem ganhou foi um projeto da ONG Paz e Bem para a construção de um Parque Ecológico no Riacho do Tanquinho. Esse fato revoltou os moradores, pois acreditam que a prioridade seria a estrutura básica que o bairro já deveria ter desde que foi entregue. “Isso não deveria nem estar em discussão, é um direito nosso que está sendo desrespeitado”.
Tânia acredita que os moradores do Valle Verde estão abandonados. “Estão tentando fazer daqui uma favela, e se continuar assim, em breve será, nossas crianças estudam longe e na cabeça de quem nos dá o vale transporte, elas podem andar por aí sozinhas. Depois de uma certa idade as mães já não têm direito ao transporte gratuito, temos que ficar em casa rezando para que nada aconteça com nossos filhos”, finalizou a mãe.

 

Projeto social

Aline ressaltou que a Associação do Bairro mantém um projeto com 78 crianças que conta com aulas de Muay Thai e capoeira, entre outras coisas. “A gente faz o que pode e conta com a ajuda de alguns empresários, mas nossa capacidade ainda é muito pequena em relação ao número de crianças que moram no bairro. A administração pública não oferece nenhuma opção aos moradores, por isso, ficamos sobrecarregados”, lembra Aline.

Ajuda

Quem tiver interesse em ajudar a Associação com doações de fraldas geriátricas, leite e alimentos não perecíveis, deve ligar no fone: 997497994 e falar com Aline.

Nota da Prefeitura

A Prefeitura de Araraquara informa que a grande pressão por vagas em unidades escolares advém da região norte da cidade, nas proximidades do Selmi Dei e Valle Verde, em decorrência dos novos conjuntos habitacionais entregues, em anos anteriores, sem infraestrutura urbana (creches, escolas, posto de saúde e área de lazer) concentrando mais de quatro mil famílias. É importante salientar ainda que no Orçamento Participativo do ano passado a construção de uma EMEF na região do Residencial Valle Verde foi eleita como obra prioritária para aquela região. A obra entrou no orçamento municipal de 2018 aprovado pela Câmara e deve ser iniciada em breve.

A falta de estrutura nesta região é algo que vem sendo debatido pelo governo com a população de forma muito aberta e transparente. Há uma grande carência de serviços essenciais à população, os quais a atual gestão vem buscando desde 2017 corrigir. O principal deles, que era o abastecimento de água, está sendo resolvido com investimentos do Daae e construção de novos poços.

A Prefeitura também vem trabalhando junto ao governo federal para recuperar os investimentos de R$ 12 milhões que a Caixa deveria ter liberado para que esses conjuntos habitacionais, financiados por ela, não tivessem sido entregues sem os equipamentos sociais necessários. Além disso, implementou um CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) no local por entender a necessidade imediata de atenção às famílias em alta vulnerabilidade social.

Vale ressaltar que essa região é uma das consideradas prioritárias e está inserida no programa Territórios em Rede, lançado nesta semana pelo prefeito Edinho. O programa tem como foco central a articulação e o fortalecimento da rede intersetorial de proteção social. O principal objetivo do Territórios em Rede é fortalecer os equipamentos públicos locais para a articulação das políticas públicas nas regiões atendidas, a fim de garantir a proteção integral às famílias.

Com relação à questão envolvendo a unidade de atendimento básico da saúde, é importante informar que a Unidade de Saúde do Jardim Adalberto Roxo segue o modelo de atendimento das Unidades de Saúde da Família e, por esse motivo, tem limite de pessoas a ser assistida. Os moradores da região do Valle Verde devem procurar os Centros Municipais de Saúde do Jardim Roberto Selmi Dei I e IV.

Com relação à demanda sobre o Centro de Referência da Mulher, é válido ressaltar que a unidade está aberta para atendimento de toda a população feminina em situação de violência ou vulnerabilidade. Várias ações são desenvolvidas com objetivo de fortalecer as políticas públicas para mulheres, algumas delas, inclusive, inseridas no novo programa Territórios em Rede.

Redação

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