O dia em que o ‘Gigantão’ quase mudou de nome

Possível mudança de nome do ginásio não agradou familiares do homenageado “Castelo Branco”, mas, projeto foi retirado de pauta pela vereadora Fabi Virgílio

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Por José Augusto Chrispim

O projeto que previa a mudança do nome do Ginásio Municipal de Esportes “Castelo Branco”, o Gigantão, está gerando muita polêmica entre os araraquarenses e, em especial, pessoas que acompanharam a construção e a inauguração da obra que revolucionou a prática de esportes em Araraquara.

O projeto da vereadora Fabi Virgílio (PT) denomina Ginásio Municipal de Esportes “Carmo de Souza – Rosa Branca” o Ginásio Municipal de Esportes “Castelo Branco” de Araraquara.

O homenageado 

Nascido em Araraquara em 16 de julho de 1940, o jogador de basquete defendeu a Seleção Brasileira por 12 anos, sendo bicampeão mundial (Chile 1959 e Brasil 1963), medalhista olímpico de bronze em Roma-1960 e Tóquio-1964, tetracampeão sul-americano e medalhista de prata e bronze nos Jogos Pan-Americanos. Rosa Branca morreu em 22 de dezembro de 2008, em São Paulo, em decorrência de uma pneumonia, aos 68 anos.

Falta de quórum

O projeto foi debatido durante a 12ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal, na última terça-feira (8), mas acabou sendo retirado de pauta pela própria vereadora, que alegou que irá discutir com o coletivo de seu mandato se deve recolocá-lo para votação em outra oportunidade ou desistir do mesmo.

Durante a sessão, vários vereadores tanto de oposição como da base do governo, se mostraram contrários ao projeto, alegando que ele feria a história da família do homenageado. A vereadora Felipa Brunelli (PT) sugeriu que ao invés de mudar o nome do homenageado, deveria se colocar o nome por inteiro dele e que se instalasse uma placa no ginásio com a sua biografia para que seja feita a sua identificação pela população que utiliza o espaço.

Justificativa

A vereadora Fabi Virgílio alegou que o nome “Castelo Branco” faria uma referência dúbia ao presidente da época da Ditadura Militar que vigorou entre 1964 e 1985 no Brasil, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Ela também defendeu que o atleta araraquarense mereceria a homenagem, porém, Rosa Branca já tem seu nome imortalizado na quadra do Gigantão.

Um pouco da história

O então prefeito Rômulo Lupo em seu primeiro mandato, promulgou em 1957 uma lei para a captação de recursos para a construção de um ginásio de esportes, conforme havia decidido a Câmara Municipal. Mas, somente no seu segundo mandato como chefe do Executivo, foi que o desejo começou a se tornar realidade com a construção do ginásio, projeto na época assinado pelos arquitetos araraquarenses Luiz Ernesto do Valle Gadelha e Jonas Farias.

Anos depois, o empresário Rubens Cruz, então prefeito de Araraquara no mandato de 1969-1972, recebeu de Rômulo Lupo a missão de terminar o ginásio até outubro de 1969, quando aconteceria o 34º Jogos Abertos do Interior. Para isso, Rubens Cruz em abril de 1969, contratou uma Comissão Técnica, composta pelo arquiteto Nelson Barbieri e pelos engenheiros José Henrique Albiero e Roberto Massafera, com o compromisso de concluir a construção. A responsabilidade da administração das obras ficou a cargo do engenheiro Luiz Antonio Massafera.

Em 5 de setembro de 1969, por meio do Decreto nº 3251, ficou decidido que o gigante de concreto seria chamado de Ginásio Municipal de Esportes “Castelo Branco” de Araraquara. Todos pensaram ser uma homenagem ao ex-presidente militar, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, morto em 1967. O prefeito não desmentiu, mas o que queria mesmo era homenagear a esposa e o sogro, que tinham como sobrenome “Castelo Branco”. Sua esposa se chamava Maria Thereza Castelo Branco Cruz, e um dos filhos do casal, Rubens Castelo Branco Cruz. 

A inauguração foi no dia 11 de outubro de 1969, uma semana antes da realização dos Jogos Abertos do Interior e desde a sua inauguração até os dias de hoje, estudantes de engenharia, arquitetura e profissionais da área visitam o Gigantão, considerada uma arrojada obra e modelo único de engenharia e arquitetura. 

Indignação

A reportagem de O Imparcial conversou com o senhor Rubens Castelo Branco Cruz, filho do ex-prefeito de Araraquara, Rubens Cruz, que deu o nome de seu sogro, Arnaldo Valdiviesso Castelo Branco, ao Gigantão. 

“Rubinho”, como é mais conhecido, relatou a história de lutas e conquistas das famílias Castelo Branco e Cruz que, entre outras coisas, foi proprietária da Viação Empresa Cruz por 44 anos. Ele disse que ficou triste com a notícia sobre o projeto que determinava a retirada do nome de seu avô do Ginásio de Esportes Castelo Branco.

Rubinho contou que a ideia de mudar o nome do ginásio não é nova e que o ex-deputado federal Newton Lima (PT) já a havia cogitado.

História de lutas e conquistas

Rubinho relatou à reportagem que a trajetória das famílias de seus avós é muita rica e faz parte da história de Araraquara e região. Ele conta que seu avô, que dá nome ao Gigantão, foi administrador de campo da Fazenda Itaquerê na região de Nova Europa, na época áurea do café. Já seu pai, Rubens Cruz, começou como motorista e cobrador de ônibus fazendo a linha entre Nova Europa/Gavião Peixoto/ Nova Paulicéia/Curupá/ Tabatinga. E, entre uma viagem e outra, conheceu a sua mãe que viria a se casar com ele tempos depois.

“Antes de vir para Araraquara, o meu pai Rubens Cruz foi vereador em Nova Europa que na época era Distrito de Tabatinga. O meu tio Pedro Cruz foi vice-prefeito do governo do Benedito de Oliveira, e o meu tio Leonardo Crocci Filho foi vereador por Araraquara, pois, a nossa família sempre teve uma ligação forte com a política da região”, relembrou Rubinho.

Já no ano de 1950, Rubens Cruz veio para Araraquara onde a Empresa Cruz Transportes começava a se expandir, já que a família Cruz tinha se fixado em Bueno de Andrada. Anos depois, ele entrou para o Partido Arena e, em 1968, foi eleito prefeito de Araraquara.

Inauguração do Gigantão

Rubinho conta que no dia da inauguração do Gigantão, seu pai estava enfartado. “Lembro-me que no dia da inauguração do Gigantão, meu pai estava no hospital, pois havia sofrido um enfarte. Os médicos não liberaram ele para a inauguração, que seria realizada às 9h da manhã daquele dia, onde ocorreria o desfile das equipes participantes dos Jogos Abertos. Então, meu pai foi representado pelo professor Hermínio Pagotto (vice-prefeito). Meu pai só foi ao Gigantão durante a noite, quando junto de Rômulo Lupo, inaugurou o ginásio”, relata.

Sentimento de família

“Eu acho que antes de se pensar em se retirar o nome de alguém que foi homenageado em um determinado contexto de uma determinada época, é necessário conhecer a história dessa pessoa. As famílias Cruz e Castelo Branco construíram suas histórias com muita luta e idoneidade. Eu não acredito que merecem ter seus nomes apagados devido a um engano. Meus avós vieram para Araraquara e aqui ficaram até morrer. Eles estão sepultados no Cemitério São Bento, no jazigo da família onde jaz uma parte da história da Morada do Sol”, ressalta Rubinho.

A história não morre

O ex-prefeito de Araraquara e ex-deputado estadual, Roberto Massafera, também se mostrou contrário à mudança de nome do Gigantão. Como engenheiro civil, Massafera fez parte da comissão técnica responsável pela conclusão da obra do Ginásio de Esportes “Castelo Branco”.

“Uma pessoa não morre enquanto não morrer a última pessoa que conviveu com ela”, disse Massafera à reportagem acrescentando que irá lutar o quanto for possível para que a história do homenageado não seja apagada.

Fotos: Arquivo Tetê Viviani

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