Sei que não prometi regularidade nestas crônicas, uma vez que minha vida é um corre-corre e assim será, se tudo der certo, até o fim.
Hoje volto por um motivo especial. Nunca pretendi ficar parado no mesmo lugar. Criança, eu via em algumas ruas desta cidade, pessoas sentadas nos portões no final da tarde, ou o sábado inteiro, ou final de domingo. Olhavam as pessoas passando. Por anos, décadas, vi essas pessoas no mesmo lugar, olhando a vida passar. Algumas ainda estão lá.
Eu pensava horrorizado, que vida é esta, uma vida no mesmo ponto, enquanto o mundo gira ao redor. Meu maior medo era ser um desses paralisados. Escrevo estas coisas pensando que no final deste dia 14 de março de 2019, algo pode mudar uma vez mais em minha vida, que muda tanto que parece imobilizada.. Pode acrescentar uma coisa a mais nesta deliciosa velocidade.
Porque hoje, no Rio de Janeiro, ao reiniciar suas atividades, depois de um recesso de dois meses, a Academia Brasileira de Letras fará a eleição para preencher a vaga da cadeira 11, ocupada por décadas por Helio Jaguaribe, falecido ano passado. Um dos maiores pensadores deste país.
Terminada a eleição, contados os votos, o presidente Marco Lucchesi vai telefonar para determinado número , em uma casa no Cosme Velho, Rio de Janeiro. Então, ao atender, eu que estarei ali, rodeado de família, de meu editor Luis Alves e de amigos, vou ouvir: Tenho o prazer de comunicar que o senhor é o novo membro desta Academia. Ou então, dirá: infelizmente, o senhor não venceu. O jogo democrático é este.
Em seguida, todos os acadêmicos sairão da sede no centro do Rio de Janeiro, DO chamado Petit Trianon, e irão para aquela casa no Cosme Velho, residência do acadêmico Cicero Sandroni e sua mulher Laura, uma das maiores especialistas em literatura infantil do Brasil. Eles me o ofereceram a casa como “ponto de espera” para o ritual .
Quando Jaguaribe faleceu, instigado por amigos como Celso Lafer, Antonio Torres, Fernando Henrique Cardoso, Cicero Sandroni, Nélida Piñon, Rosiska Darcy de Oliveira e Lygia Fagundes Telles, lancei minha candidatura. Depois de 54 anos de carreira, com 45 livros publicados, entre romances, contos, crônicas, infantis, viagens, reportagens, traduções em mais de dez línguas, tentei. O homem de 82 anos se vê ainda nas redações da Folha Ferroviária, do Correio Popular e de O Imparcial. O que diriam Lázaro de Rocha Camargo, Antonio e seu filho Paulo da Silva? E olhe aqui, Cecilia!
No fim desta tarde serei um acadêmico da Brasileira, a casa fundada por Machado de Assis? Se não, apanharei a derrota e colocarei numa gaveta ao lado de muitas outras, tenho uma coleção. Vencendo, serei o primeiro araraquarense naquela casa.