segunda-feira, 25, novembro, 2024

O submundo das ruas

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Diante da morte de uma moradora em situação de rua na Vila Yamada, um homem esfaqueado na avenida 36 e uma briga por ponto na região central de Araraquara, flagrada pelo Jornal O Imparcial, trouxemos à tona a situação degradante em que vivem essas pessoas em situação de rua na cidade.
Diante disso, a reportagem visitou uma das muitas praças que servem como moradia para andarilhos, para conhecer a realidade em que vivem.

“Somos pessoas que temos apenas o direito de não ter direitos. Somos o lixo da sociedade, que nossos governantes querem colocar debaixo do tapete”, afirmou Roberto Carlos, de 43 anos, que vive nas ruas há 20 anos. Ele disse que trabalha e estuda, mas já se acostumou às ruas. Bem vestido e comendo um marmitex, acredita também que em primeiro lugar as pessoas em situação de rua precisam se ajudar, querer uma vida melhor, pois ainda tem gente disposta a ajuda-los. “Quando resolvemos morar na rua temos um problema, quando estamos nela há anos, já são vários, e não temos mais autoestima”, resumiu.

Sem apoio

O vendedor de gomas nos semáforos, Adão Luís do Nascimento, de 47 anos, que vive nas ruas da cidade há 20 anos, diz que já passou por várias instituições e na maioria delas, são os responsáveis que escolhem quem entra e quem sai. “Se vão com sua cara te levam, se não, você que se vire”. Desempregado, ele aguarda uma casa, para a qual diz ter feito inscrição, além de um trabalho nas ‘frentes de cidadania’, que ainda não foram implantadas pelo município. Afirmou ainda, que casas foram entregues a pessoas que ele conhece, mas estas venderam ou trocaram por drogas, enquanto ele está na fila há anos e morando nas ruas.

“As pessoas que trabalham nas instituições públicas fingem que ajudam, mas não trabalham para o povo que precisa. Existem casas especializadas na cidade que deveriam nos acolher, e nem água nos dão quando pedimos, não há programa voltado para a recuperação de nossa dignidade, para que possamos ter casa e emprego. A gente não pede muita coisa”.
Ismael Pedro Ferreira, de 63 anos, há 15 anos na rua, disse à reportagem que tem família na cidade, mas fez uma escolha por viver com liberdade, mesmo assim, visita familiares sempre que pode.

Moradores de rua discutem sobre ponto

Outro morador da praça, de 37 anos, ressaltou que existe sim, uma disputa por pontos, onde se pode conseguir mais dinheiro, na esquina da Praça Santa Cruz, no Centro e na avenida 36. Afirmou ainda que de Araraquara tem poucas pessoas em situação de rua, que se conhecem entre si, mas a cidade vem sendo invadida por andarilhos da região, encaminhados por prefeituras de outros municípios, “arrumam encrenca, brigam, roubam e sobra para nós”.  Ele ainda destaca que esses forasteiros conseguem vagas para dormir e comer, enquanto faltam vagas para quem é daqui.

Perseguição

Outro ponto ressaltado pelos moradores da praça foi a perseguição sofrida por eles, por parte dos órgãos de segurança. “Tudo que acontece a gente tem culpa, os guardas chegam aqui e ‘arrepiam’ com a gente. Pode ter certeza que amanhã, depois da reportagem, nem a panela vai sobrar no chão”, reclamou um dos entrevistados.


Atendimento

Em nota, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social lamenta muito o ocorrido com a moradora em situação de rua Josiane Aparecida Mendes. Assim como o ocorrido com o morador em situação de rua que teve ferimentos nos braços.
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social oferece o atendimento à população em situação de Rua através da Casa Transitória, Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua – Centro POP e Serviço Especializado em Abordagem Social. É válido salientar que mesmo para aqueles que não aceitam o acolhimento as unidades estão abertas para almoço, jantar e banho.
Devido a complexidade, este público, demanda a atuação não somente da Política de Assistência Social, mas também da Saúde, Segurança Pública e Política Municipal sobre Drogas. Por isso, o município de Araraquara lançou no ano passado o programa “Novos Caminhos” que têm atuado intersetorialmente na busca por um atendimento integrado e qualificado e a esta população. Aceitar atendimento é fator preponderante para a atuação das equipe do Centro Pop, Abordagem Social e Casa Transitória. É realizada a abordagem, oferece-se o atendimento, mas caso a pessoa não aceite, pouco podemos realizar pois está no seu direito de escolha. Diante da negativa é realizado o monitoramento.

Redação

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