Por Luís Carlos Bedran
Enquanto a Editoria do jornal o permitir; enquanto existir assuntos que talvez possam ser objeto de interesse ou mera curiosidade dos leitores para lê-los apressadamente neste século veloz; e enquanto o autor dessas breves linhas ainda conseguir ter algumas ideias, juntando tudo, então vamos em frente.
Existem alguns temas que sempre foram e continuarão sendo polêmicos como religião, política e futebol. Outros também o podem ser, mas não é a finalidade deste artigo expor controvérsias nesta coluna. Que isso fique a cargo de internautas nas redes antissociais, onde todos costumam dar os palpites mais esdrúxulos sobre tudo.
Aqui e agora é para tão somente expor um ponto de vista pessoal, que nunca se pode afirmar seja definitivo, pois tudo é mutável, a depender de novas circunstâncias e de novos elementos.
O assunto é sobre uma assembleia que 250 bispos católicos realizarão em outubro no Vaticano, para deliberar sobre os “caminhos da Igreja e para uma ecologia integral na Amazônia”. Não deixa de ser louvável esse encontro, pois não se imagina que pessoas de alta formação intelectual possam se reunir para tratar de assuntos que não sejam direcionados apenas aos seus interesses, mas, sobretudo, ao bem-estar dos habitantes da Amazônia.
Até aí não haveria nada demais, se não houvesse uma reação do governo federal e de um grupo conservador da Igreja. Pois ambos veem no Sínodo da Amazônia interesses outros que não aqueles, como existir um movimento de esquerda contra nossa soberania, além de críticas ao País sobre a questão ambiental, de repercussão até internacional.
Entretanto esse é um tematão complexo que não cabe a este leigo articulista entrar em seu mérito, mesmo porque abrange inúmeras áreas, como um de seus organizadores, o Cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo P. Scherer, informa em seu artigo, “Sínodo da Amazônia”, publicado n’ “O Estado de São Paulo” em 13 de julho deste ano. Pois, além dos assuntos religiosos, ele diz que essa congregação tratará da pobreza, das migrações, da urbanização e dos povos originários e suas culturas e o termina esclarecendo que “nada disso é indiferente à missão da Igreja”.
Contudo, pode-se entender que, na verdade (e no fundo), o Sínodo não deixa de ser (ou mesmo deveria ser) um sutil e indireto pedido de perdão pelo que o Cristianismo (e não somente a Igreja Católica) fez aos índios na Amazônia com a chegada dos europeus e missionários desde o século 16.
Pois a História é plena de dados a respeito do que eles praticarame que podem ser encontrados nos documentos oficiais e nos relatos dos antropólogos, viajantes e cientistas que percorreram a Amazônia desde o início do descobrimento do Brasil.
Como José Bonifácio de Andrada e Silva se expressou no seu apontamento para a “Civilização dos Índios Bravos do Império do Brasil”: “Eu sei que é difícil adquirir a sua confiança, porque, como disse-lhes, nos odeiam, nos temem e, podendo, matam e devoram. E havemos de culpá-los? Se com o pretexto de os fazermos cristãos lhes temos feito e o fazemos muitas injustiças e crueldades?”. [“Referindo-se à catequese missionária religiosa”].
Claro, não apenas os católicos, mas também as missões protestantes, como relata o antropólogo Darci Ribeiro em seu relatório, “O Serviço de Proteção aos Índios e as Missões Religiosas” (1954). Apesar dos idealistas e dos esforços dos irmãos Villas Boas, Rondon, de tantos outros indigenistas e, sobretudo do Exército, na tentativa de diminuir ou eliminar a tragédia indígena, mesmo assim ainda, em pleno século 21, as consequências repercutem.
Com o acréscimo dos exploradores inescrupulosos de minérios, dos fazendeiros, e de ONGs de fachada. Sem mencionar, já no passado, a “legislação hesitante e contraditória da política portuguesa”, como disse João Francisco Lisboa, historiador e jornalista: “Política que ora amparava o índio com todas as regalias da justiça, ora legalizava a escravidão, discriminando-lhe formas e criando casos da mais vexatória iniquidade, conforme a influência dos jesuítas ou os interesses dos colonos”. (Apud, “Nas Pegadas de Rondon”, de Hélio J. Bucker e Ivete B. Bucker”, “Entrelinhas”, Cuiabá, 2005).
Foram trágicas a catequização dos índios, a pretexto de “civilizá-los”. Se ela foi inevitável no curso da História da humanidade e na da Amazônia, o Sínodo seria a redenção pelo perdão. Foi o que Cristo pregou. Esta seria uma oportunidade única que o papa Francisco poderia atentar. Tal como tem sido a tônica atual no mundo todo: pedidos de desculpas pelos males praticados contra pessoas e etnias, por países ou instituições.