Presidente nacional do PT fala sobre reeleição de Lula, Araraquara e desafios do partido

“Maior desafio para a eleição de 2026 é conseguirmos mostrar para a sociedade brasileira tudo que o governo Lula tem feito”, entende Edinho

Mais lido

Por José Augusto Chrispim

Ex-prefeito de Araraquara por quatro mandatos, ex-deputado estadual, ex-ministro e coordenador da campanha do presidente Lula em 2022, o araraquarense Edinho Silva concedeu entrevista exclusiva ao O Imparcial onde fala sobre o cenário político nacional e dos desafios que deve enfrentar como presidente nacional do partido dos Trabalhadores (PT), posto que assumiu no último 3 de agosto, depois de ser eleito com 73% dos votos espalhados em todo o país.

Eleito presidente do PT com a maioria absoluta dos votos, Edinho assume o comando com o desafio de unificar o partido, dar força a velhas e novas bandeiras da legenda e, principalmente, viabilizar a reeleição do presidente Lula em 2026. Responsável pela costura do apoio de centro ao petista na disputa presidencial em 2022, que considera a “mais difícil” que já enfrentou, Edinho afirma que o próximo pleito será ainda mais complicado. Por esse motivo, o araraquarense defende a busca não só do eleitor de centro, mas, também daquele que se aproximou do bolsonarismo nos últimos anos e estaria insatisfeito. “O maior desafio é furar a bolha da polarização e dialogar com quem não escolheu Lula por alguma circunstância, mas que já votou no PT em outras eleições”, explica o presidente do PT.

Confira abaixo a entrevista exclusiva que Edinho Silva concedeu ao O Imparcial:

O Imparcial: Como você espera conduzir a presidência do Partido dos Trabalhadores em um ambiente tão polarizado no país? Quais bandeiras você pretende defender?

Edinho: “A polarização é uma realidade internacional, não é só no Brasil que ela está ocorrendo, eu penso que a gente tem que dialogar com a sociedade, não existe uma mágica para você romper com essa lógica da polarização. Tem que dialogar e debater aqueles que são os problemas reais da sociedade, você não vai ter solução a curto prazo, mas, eu penso que as pessoas também vão decantando informações, vão formando opinião, por exemplo, os dois últimos fatos que furaram a bolha da polarização foi o debate da justiça tributária, quando o governo mandou o projeto de lei cobrando impostos de operações bancárias que não pagavam tributos e também para abrir a possibilidade de cobrar tributos das grandes fortunas, das BETs, além de isentar a carga tributária de quem ganha até R$ 5 mil. Por incrível que pareça, o debate da justiça tributária mexeu com a opinião pública. Outro fator que mexeu com a opinião pública foi a defesa da soberania, quando o governo Trump provoca a maior agressão diplomática da história brasileira, tentando ingerir nas nossas instituições, além de outro episódio gritante que foi a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, -quando, inclusive o presidente da república estava aqui em Araraquara, mas os atos de violência aconteceram na Capital do país -, onde nessa tentativa de golpe havia um plano para matar o presidente, o vice-presidente e o ministro do STF, portanto, é claro que o povo brasileiro quer que se apure um ato tão grave como esse, senão, daqui pra frente todo mundo que perder a eleição vai se sentir no direito de dar um golpe e de mandar matar quem ganhou as eleições. É claro que isso deve ser apurado e o governo Trump quis fazer uma ingerência no Brasil para que esses fatos não fossem apurados, dando um verniz político a um debate que é meramente econômico e que envolve três temas importantes, na minha opinião que são: o direito de o Brasil participar dos BRICS, pois, qualquer país do mundo tem o direito de se articular com outros países, como o bloco composto por Brasil, China, Índia, África do Sul e Rússia que formam um bloco de integração econômica de troca inclusive de tecnologia. Já os EUA criaram a ALCA que criou uma relação privilegiada com a União Europeia e o Brasil nunca retaliou os Estados Unidos por conta disso. O Brasil tenta construir novas relações econômicas e é retaliado por essas construções e, isso é inadmissível, como se a gente só pudesse construir relações com os EUA, acho que isso é um fato grave. Outro problema é o PIX, ao qual o governo americano tenta influenciar, pois, no ano passado, o PIX movimentou R$ 30 trilhões sem cobrar taxas e, isso, evidentemente afrontou os interesses das empresas de crédito que são americanas. Mas, é evidente que o Brasil não vai abrir mão do PIX que hoje virou um patrimônio do povo brasileiro. Outro ponto que move essa fúria americana são as nossas reservas de terras raras, pois, o Brasil detém 25% das reservas desse material valioso que é usado como matéria prima para tudo de mais tecnológico no mundo. Então eu penso que esses são os três temas que têm movido essa fúria americana contra o Brasil, pois, eles querem ingerir sobre esses temas e isso afronta nossa soberania nacional e afronta o direito de o Brasil de discutir o seu futuro. Eu penso que esse assunto sobre soberania nacional também mexeu com a opinião pública e furou a bolha da polarização. Por isso, digo que nós vamos sair da polarização quando debatermos a vida real das pessoas”.

O Imparcial: Para você, qual é o maior desafio para a reeleição do presidente Lula em 2026?

Edinho: “Para mim, é conseguirmos mostrar para a sociedade brasileira tudo que o governo Lula tem feito. Se nós pegarmos os dados do presidente Lula e compararmos com os dados do ex-presidente Bolsonaro, não tem uma área que os dados do Lula não sejam literalmente acachapantes em relação aos dados do Bolsonaro. E nós precisamos, mesmo nesse ambiente de polarização, que a sociedade brasileira reconheça tudo que o presidente Lula tem feito pelo Brasil, inclusive na área econômica, pois, o Brasil é um dos países que mais crescem de forma sustentável, o país bateu recorde de criação de empregos novamente, o Brasil tem conseguido superar seus índices históricos de distribuição de renda, nós tivemos no último período mais de 1 milhão e 300 mil famílias que deixaram o Bolsa Família, isso mostra que os programas sociais hoje têm porta de entra e porta de saída. Mas, a nossa maior dificuldade é fazer com que a sociedade brasileira enxergue tudo isso”.

O Imparcial: Você acredita que o bolsonarismo saiu enfraquecido desse episódio do “tarifaço” que contou com o apoio do filho do ex-presidente Bolsonaro? Com isso, o PT entende que seja possível atrair votos de bolsonaristas arrependidos?

Edinho: “Não tenho nenhuma dúvida dessa coisa do sectarismo, esse pensamento fascista que contamina a ultradireita hoje, fez com que eles tenham saído muito desgastados, porque eles estavam defendendo os Estados Unidos e não o Brasil e, isso, gerou um desgaste grande para eles. Porém, esse núcleo duro de identidade fascista no Brasil ele se identifica com o fascismo e nesse setor você não consegue mexer. Mas, aqueles setores que votaram no Bolsonaro nas últimas eleições por algum motivo conjuntural, ou seja, não pensam como fascistas, eu acho que com esse setor a gente tem condições de conversar”.

O Imparcial: Como o PT espera conseguir manter ou até ampliar a base aliada mesmo com uma possível saída de partidos como o União Brasil e o PP, que devem buscar campanhas independentes no ano que vem?

Edinho: “Acho que mesmo em campanhas independentes, uma base do PP e do União Brasil apoia o Lula, por isso, eu penso que a gente reproduza em 2026 aquele campo que se formou no segundo turno de 2022, que vai buscar na reeleição do presidente Lula uma forma de vencer esse pensamento fascista e de vencer essa concepção submissa aos interesses dos Estados Unidos e de outros países, porque, se essas forças forem vitoriosas, significa que não teremos um projeto de futuro nacional, não trataremos as terras raras como fonte de riquezas para as próximas gerações, o Brasil não terá projeto de utilização da riqueza do petróleo da costa equatoriana, não terá um projeto de reflorestamento da Amazônia, de melhorar o nosso monitoramento do desmatamento, já que eles defendem o desmatamento, não reconhecem a urgência climática. Então, se essa forma de pensamento for majoritária, vamos enfrentar um projeto que não reconhece a dramaticidade da urgência climática, que menospreza a democracia, que o Brasil tenha um projeto de desenvolvimento nacional, que o Brasil tenha um projeto que pense em deixar um legado para as próximas gerações de brasileiros. Então, eu estou muito otimista na formação de um campo amplo que garanta a vitória do presidente Lula em 2026”.

O Imparcial: Como você acha que a economia de Araraquara e região podem ser afetadas pelo tarifaço, e o que o prefeito Lapena pode fazer para mitigar os efeitos negativos?

Edinho: “O Processo de negociação do presidente Lula já diminuiu muito os efeitos do ‘tarifaço’, já que mais de 40% dos setores produtivos ficaram de fora, inclusive, em cadeias importantes como a do suco de laranja e da produção aeronáutica, mas, ainda tem setores importantes afetados como as frutas, o café, o setor de maquinários. Então é preciso identificar na nossa região quais são os setores afetados e os prefeitos dessas cidades precisam se reunir e fazerem uma agenda com o setor empresarial, inclusive, eu já me coloquei à disposição, tenho conversado com empresários da região para que a gente crie um elo de diálogo direto com o presidente Lula para tratar desses setores que serão afetados pelo tarifaço”.

O Imparcial: Como o PT pretende atrair os votos dos evangélicos que foram determinantes nas últimas eleições e, assim, voltar a ter um protagonismo maior nas eleições nacionais?

Edinho: “Conversando com a comunidade evangélica, não há outra forma. Eu penso que o governo Lula tem muitos projetos que beneficiam a comunidade evangélica, pois, quando você lança um projeto como o Pé de Meia, que trata do adolescente que estuda em condições de vulnerabilidade, você está conversando também com a comunidade evangélica, quando você amplia a educação integral, quando você trata do Minha Casa Minha Vida, que deve chegar a 2.5 milhões de casas no Brasil, você está conversando com a comunidade evangélica, pois, são programas que fortalecem a família, por isso, temos que continuar a fazer políticas públicas que atendam a comunidade evangélica e ter as portas abertas para esse diálogo”.

O Imparcial: O que a cidade ganha com a sua presença em uma posição de suma importância para o governo federal?

Edinho: “Eu sempre sou interlocutor dos interesses de Araraquara onde quer que eu esteja. Nessa posição que estou hoje, estarei trabalhando para ajudar no que for possível a cidade de Araraquara. Inclusive, em todas as vezes que o prefeito Lapena me procurou eu tenho tentado colaborar em todos os temas que ele tem me trazido. E assim será, quanto mais força eu tiver, mais força eu quero colocar à disposição da cidade de Araraquara. Eu moro aqui, minha família está aqui e quero estar em Araraquara até os últimos dias da minha vida”.

O Imparcial: Que mensagem você tem para o araraquarense nesses 208 de Araraquara?

Edinho: “A minha mensagem é que a gente continue trabalhando por uma Araraquara justa, por uma Araraquara humana, que cuide de seu povo, que valorize as políticas públicas, que cuide do povo lá na frente, que cuide da saúde, que cuide da educação, da assistência social, dos programas de geração de trabalho e renda. Eu quero que Araraquara esteja pactuada com a construção de uma cidade que efetivamente seja uma cidade justa para todos que moram aqui”, finalizou Edinho.

Foto: O Imparcial

Artigo anterior
Próximo artigo

Mais Artigos

Últimas Notícias