terça-feira, 24, setembro, 2024

Quinta-feira (26): “INSOLENTE” no Teatro do Sesc reúne artistas do Brasil, México e Paraguai

Conferência Performativa “INSOLENTE: o sentimento de que tudo é possível” conta acessibilidade em Libras e legendas em 3 línguas; obra se originou a partir do encontro de Pinar Selek e Gilsamara Moura, na França

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A Conferência Performativa “INSOLENTE: o sentimento de que tudo é possível” é a atração da quinta-feira (26) no FIDA – Festival Internacional de Dança de Araraquara. A apresentação será no Teatro do Sesc Araraquara, às 20h, com ingressos distribuídos uma hora antes do início e contará com intérprete de Libras.

A Conferência Performativa “INSOLENTE: o sentimento de que tudo é possível” inspira-se no encontro de Pinar Selek e Gilsamara Moura, em Nice/França, em 2019 e na trilha de processo de criação compartilhada por artistas diferentes países da América do Sul e da França.

A Conferência apresenta o desejo solar de “gentes” (re)escrevendo suas histórias, confluindo saberes e ignorâncias, se arriscando a sonhar um futuro que é ancestral, contracolonizando e escurecendo, decantando e movendo, inventando e reencantando mundos.

A insolência e o questionamento aos lugares sociais determinados às mulheres, iniciam a trilha da criação do projeto (2020), do videodança (2022), do espetáculo (2023), da residência (2024) e, por fim, da conferência performativa, proposta aqui pelo Grupo Gestus com a obra INSOLENTE, desenvolvida a partir do encontro de Pinar Selek e Gilsamara Moura, em Nice/França, em 2019.

Em um processo de permanente criação compartilhada por equipes de trabalho localizadas em diferentes países da América do Sul e da França, a proposta reúne as artistas Gilsamara Moura (Brasil) Alejandra Díaz (Paraguai), Brenda Urbina Bolaños (México), os músicos Antonio Cerqueira, Ailton Coelho e Ademir Cerqueira (Brasil), Nânara Santana (Brasil) e participação especial da escritora Pinar Selek (França-Turquia).

O roteiro da Conferência compreende textos e depoimentos em 3 idiomas (francês, espanhol e português). A Conferência é apresentada, em sua íntegra, pela intérprete de Libras, Nânana Santana (Salvador/Bahia), que inaugura uma tradução inclusiva cênica como tradutora e artista em cena. Assim, toda a conferência possui Libras e legendas nas projeções.

“O principal dispositivo de pesquisa aqui é a busca por uma convivência em sociedade que valorize tais percursos e narrativas feministas de luta. Temos como fio condutor promover um diálogo da dança com a literatura e a música, tendo como inspiração o livro “L’Insolente – dialogues avec Pinar Selek”, do jornalista Guillaume Gamblin, que narra a história de vida de Pinar Selek, socióloga, ativista pelos direitos das mulheres e minorias, e pensadora turco-francesa, exilada na França há 10 anos”, conta Gilsamara.

A pesquisa se inspira nos 6 capítulos da obra, desenvolvendo assim 6 Insolências, as quais são os focos de trabalho em cada residência artística para criação. Propomos aqui a continuidade da pesquisa INSOLENTE, por meio da realização da uma Conferência Performativa “INSOLENTE: o sentimento de que tudo é possível”.

Esta ‘Conferência Performativa’ apresenta o testemunho e as vivências da co-autora Pinar Selek em cena remota com as demais artistas envolvidas no projeto.

Através das reverberações dos movimentos de enraizamento, são abordadas questões contemporâneas sobre: deslocamentos, territórios, imigração, exílio e nomadismo poético, num desejo de criar lugares para re-existir e re-florestar o planeta de pessoas que acreditam na revolução com Arte e pela defesa da Dessa forma, na Conferência Performativa “INSOLENTE: o sentimento de que tudo é possível, almejamos enveredar por raízes de luta, olhando para essa insolência em comum dentre tantas mulheres, na busca por emergir pistas para um mundo com mais equidade e menos opressão.

Objetivos – Apresentação da Conferência Performativa “Insolente: o sentimento de que tudo é possível” tem, como objetivo principal, a participação remota de Pinar Selek que acompanha o projeto de Gilsamara Moura (coordenadora) desde 2019.

“Também, destacamos a importância do estreitamento de distâncias entre continentes, assim como, a cooperação internacional e as pontes de criação transdisciplinares entre artistas que abordam temas atuais da diversidade cultural em busca da paz e de melhores condições e qualidade de vida em nosso planeta”, salienta Gilsamara.

A mulher que inspirou tudo – Pinar Selek é feminista, antimilitarista, socióloga, escritora e ativista. Nascida em 1971 em Istambul, Pinar Selek construiu sua vida, seus compromissos e sua pesquisa em torno do ditado “a prática é a base da teoria”. Sua mãe, Ayla Selek, dirigia uma farmácia, um lugar onde as pessoas se encontravam e trocavam ideias, e seu pai, Alp Selek, é advogado e ativista de direitos humanos. Seu avô, Haki Selek, foi um pioneiro da esquerda revolucionária e cofundador do Partido dos Trabalhadores Turcos (TIP).

Após o golpe militar de 1980, Alp Selek foi preso e mantido em detenção por quase cinco anos. Pinar Selek passou a estudar no Lycée Notre-Dame de Sion, onde aprendeu francês e conheceu objetores de consciência – pessoas que seguem princípios religiosos, morais ou éticos de sua consciência.

Em 1992, ela se matriculou em sociologia na Universidade Mimar Sinan de Istambul, acreditando que era necessário “analisar as feridas da sociedade para poder curá-las”.

Enquanto estudava, ela passava muito tempo nas ruas de Istambul com crianças e adultos sem-teto. Ela fez grandes amigos lá, mas preferiu não escrever sobre isso por motivos éticos, que ela desenvolve em seu artigo “Working with those on the margins”.

Em 1995, ela co-fundou o Atelier des Artistes de Rue, que coordenava e do qual participavam moradores de rua, crianças, ciganos, estudantes, donas de casa, travestis, transexuais e prostitutas. Sua dissertação de graduação, intitulada “Babîali in Ìkitelli: from the smell of ink to the high-rise buildings of the business district”, concentrou-se na transformação da imprensa (jornais, rádio e televisão) na Turquia. Em 1997, ela obteve seu DEA em Sociologia com uma dissertação intitulada “La rue Ülker: um lieu d'exclusion” (Rua Ülker: um local de exclusão), um estudo realizado sobre e com transexuais e travestis. Essa pesquisa foi publicada em 2001 com o título “Masques, cavaliers et nanas. Rue Ülker: a place of exclusion” (Rua Ülker: um local de exclusão). Durante esse período e depois dele, os transexuais estavam lutando contra a violência policial e nacionalista, e esse livro, o primeiro nesse campo, foi muito útil para aumentar a conscientização do público e criar solidariedade.

Ao mesmo tempo, ela começou a pesquisar a questão Curda e fez várias viagens ao Curdistão, à França e à Alemanha para realizar cerca de 60 entrevistas para um projeto de história oral. Aos 27 anos de idade ela redobrou seus esforços para ajudar a deter as guerras e os mecanismos de poder. Em 11 de julho de 1998 ela foi presa pela polícia de Istambul e torturada para forçá-la a dar os nomes das pessoas que havia entrevistado. Ela resistiu, e uma nova forma de tortura foi usada: ela foi acusada de ter plantado a bomba que, em 9 de julho de 1998, matou sete pessoas e feriu mais de cem no mercado de especiarias em Istambul.

Apesar de vários relatórios de especialistas atestarem que não se tratava de uma bomba, mas da explosão acidental de um botijão de gás, esse foi o início de uma implacabilidade política e judicial que agora está em seu 24º ano. Ela passou dois anos e meio na prisão, e uma grande rede de solidariedade foi criada, reunindo muitos advogados, intelectuais e pessoas que ela conheceu durante seu trabalho e pesquisa. Sua irmã Saïda largou o emprego e voltou para a faculdade de Direito para se juntar à defesa de Pinar como advogada. Na prisão, Pinar Selek escreveu muito, mas todos os seus textos foram confiscados. Em dezembro de 200, ela foi finalmente libertada e, colocando em prática um projeto que vinha desenvolvendo na prisão, usou sua fama para organizar um grande “Encontro de Mulheres pela Paz” em Diyarbakir. Essa primeira mobilização foi seguida por outros encontros em Istambul, Batman e Konya.

Em 2001, junto com outras feministas, ela fundou a associação Amargi para fazer campanha contra a violência contra as mulheres, pela paz e contra todas as formas de dominação, e abriu a primeira livraria feminista no centro de Istambul. Em 2002 a associação organizou a “Marcha das Mulheres em Direção umas às Outras”, quando milhares de mulheres de toda a Turquia se reuniram na cidade de Konya. Esse também foi o ano em que a mãe de Pinar Selek morreu de ataque cardíaco. Em 2004, Pinar Selek publicou Barisamadik “We couldn't make peace”), um livro sobre a cultura militarista e os movimentos pela paz na Turquia. Em 2006, junto com outras pessoas, ela fundou a revista teórica feminista Amargi, que ainda vende milhares de exemplares em toda a Turquia e da qual ela ainda é editora-chefe. Exilada na França desde 2017, é autora de vários livros publicados em turco e francês; e tem traduções em alemão, italiano, grego e espanhol.

Atualmente Pinar reside na França, país anfitrião durante todo seu exílio. Obteve a nacionalidade francesa em 2017. E em 2018, co-funda, em Nice, o Grupo de Reflexões e de Ações Feministas (GRAF).

Ficha técnica:

Projeto original/ artista proponente/coordenação geral: Gilsamara Moura (Brasil)

Intérpretes-criadores: Gilsamara Moura (Brasil), Alejandra Díaz (Paraguai) e Brenda Urbina Bolaños (México)

Músicos: Antônio Cerqueira (Diogo/ Bahia/ Brasil), Ademir Cerqueira (Diogo/ Bahia/ Brasil) e Ailton Coelho (Salvador/ Bahia/ Brasil)

Participação especial: Pinar Selek (Turquia/França)

Imagens e Depoimentos: Gilsamara Moura, Alejandra Díaz e Brenda Urbina Bolaños

Intérprete de Libras: Nânara Santana (Salvador/ Bahia/ Brasil)

Edição: Brenda Urbina Bolaños (México)

Equipe cenotécnica: Nicolas Sadoyama/ Cíntia Sadoyama (SP)

Vídeo: Angel Robin Fox (Palestina/Noruega) e Ademir Cerqueira (Diogo/Bahia/ Brasil)

Produção executiva: Neila Dória (SP)

Produção local: Wilson Junior (AM) e Adriana Cruz (SP)

Identidade visual: Marina Amaral (SP)

Moradoras de Diogo/ Bahia: Dona Lalu e Dona Detinha (BA)

Bonecas das mulheres Indigenas/ Artesãs Nivacchei do Paraguai (Laurentina Santa Cruz e Daniela Benitez)

Agradecimentos: Leonice Molers Moura/ MariaFlor Guerreira Pataxó/ Adela Bolaños/ Alvaro Urbina/ Instituto Superior de Bellas Artes (ISBA-Paraguai)

Realização: Grupo Gestus (Brasil)

Apoio: Créar en Libertad (Paraguai)

SERVIÇO:

FIDA 2024 – Festival Internacional de Dança de Araraquara

Conferência Performativa “INSOLENTE: o sentimento de que tudo é possível” (Grupo Gestus)

Local: Sesc Araraquara (Rua Castro Alves, 1315 – Quitandinha)

Data: quinta-feira (26 de setembro)

Horário: 20h

Programação gratuita

Oficinas – Inscrições abertas: https://bit.ly/oficinasfida2024

Espetáculos – ingressos distribuídos uma hora antes da apresentação, no local da atividade

Redação

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