Da redação
Os animais abandonados em Araraquara estão passando por dias difíceis e sofridos. Não que não haja políticas públicas, protetores e Ong’s para ampara-los, eles existem sim, e o trabalho que vem sendo feito por eles é árduo. O que falta é consciência da população, que ainda acredita que os animais são brinquedos descartáveis. Para outros, os animais já fazem parte de sua família, e por eles têm um amor incondicional, são tratados como filhos, e assim deveria ser, pois se trata de vidas, seres que preenchem com amor dias vazios de idosos abandonados também por seus filhos, e alegra as brincadeiras de crianças .
Em entrevista ao O Imparcial a protetora de animais Silvana de Souza diz que Araraquara é uma das melhores cidades em políticas públicas e que existem várias Ong’s sempre atendendo ocorrências, fazendo castrações diárias e socorro imediato. Diz ainda que em outras cidades que costuma atuar na proteção, os sistemas são precários, as prefeituras não ajudam e as pessoas pouco se importam.
Mas o que se vê pela cidade é a negligência gritante, o sofrimento sem limites, o abandono, atropelamentos sem socorros por parte dos autores.
Ciente da situação, a Prefeitura Municipal realizou a 1ª Conferência Municipal de Proteção e Defesa dos Animais, no dia 23 de abril, no Centro Internacional de Convenção, para conscientizar as pessoas sobre suas responsabilidades e regras a serem cumpridas a partir do momento que adotam um animal. Objetivando também discutir políticas públicas e teve como tema ‘Bem-estar animal, controle populacional e guarda responsável’, o debate também se estendeu ao controle populacional, guarda responsável, animais em situação de maus-tratos e abandonados, e controle de zoonoses. Primeiro passo para a elaboração conjunta, com diversas entidades e setores públicos e privados, à construção de um Plano Municipal de Proteção e Defesa dos Animais em Araraquara.
Direitos
A advogada Carolina de Mattos Galvão que atua voluntariamente na causa animal diz que aqui na cidade existe a lei 827/2012, que regulamenta os casos em que os animais são resgatados pela prefeitura (debilitados, atropelados, doentes, bravos, prenhas, filhotes e idosos), e que animais saudáveis soltos em vias públicas, não são resgatados pela prefeitura. Existe também a ouvidoria da Secretaria da Saúde que envia fiscais até o local da denúncia, para averiguar os crimes de maus tratos.
A advogada diz ainda que o problema enfrentado na cidade é que existem poucos fiscais, a lei não é efetivamente aplicada, as pessoas não são autuadas como dispõe a legislação e o maior deles, é a falta de conscientização, pois é fácil culpar o poder público pelo que o cidadão não faz. O caminho, segundo Carolina, seria uma parceria entre população e prefeitura para que as coisas se resolvam.
A defensora foi quem atendeu o caso da mulher que matou um animal e feriu outro a garrafadas em fevereiro deste ano no bairro Selmi Dei. Ela diz que a mulher foi flagrada agredindo os animais e foi levada para a delegacia, onde foram identificados dois crimes, pelos quais ela poderia ser autuada e presa, mas o delegado não entendeu dessa forma e somente determinou que ela fosse presa porque desacatou um policial. “Se as autoridades não são sensíveis à causa animal, infelizmente a punição também não acontece”, finalizou Carolina.
Abandono
A protetora Ana Maria que costuma fazer resgates nas ruas da cidade, disse que o que mais vê ultimamente são pessoas se mudando para apartamentos e outras cidades e abandonando seus animais à própria sorte. E como eles não têm instinto de rua, acabam sendo atropelados e pegando cria. Também tem aquelas pessoas que têm a mania de deixar cachorros idosos dar a famosa “voltinha” e eles se perdem, sendo que é necessário usar guia. Ela percebe também que muitas pessoas reclamam pelas redes sociais, mas na realidade não movem um dedo para ajudar, diz ainda que o descarte de filhotes é sistêmico na cidade, deixando clara a falta de humanidade e consciência de pessoas que dizem amar seus animais.
Se você não sabe amar, não adote um animal, finalizou Ana.
Verba
A vereadora Juliana Damus (PP), que é ligada a causa animal, falou com a reportagem e disse que o mais importante nesse momento é a castração, tanto que vem se empenhando e conseguiu uma verba para a compra de um trailer para realizar atendimentos descentralizados em campanhas de conscientização, castração e vacinação.
Em nota a prefeitura diz que tem compromisso na construção de uma política pública em defesa dos direitos dos animais por considerar essa uma questão de saúde pública. Hoje, os animais abandonados são abrigados no Centro de Zoonoses e em um canil terceirizado, gerando um custo de R$ 2 milhões ao Executivo. Atualmente a Prefeitura cuida de cerca de 400 gatos e 300 cães. Esse número vem crescendo sistematicamente em função do abandono.
A Prefeitura realiza diversas ações a fim de minimizar o problema como recolhimento de animais, a castração, chipagem, além de feirinhas de adoção, num esforço conjunto e articulado com a rede de proteção formada por Ongs. No entanto, é preciso sempre reforçar a importância da conscientização da população para a posse responsável.
No ano passado, por meio de lei aprovada pela Câmara, o poder público restabeleceu o Conselho Municipal em Defesa dos Animais, buscando a participação da sociedade civil nesse processo.