Viva Araraquara, em todas as suas versões!

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Roberto Schiavon/Colaboração

Araraquara completa 208 anos nesta sexta-feira. Mais um 22 de agosto na Morada do Sol, que a cada ano vai se dividindo em diversas versões de cidade.

Conforme o tempo passa, Araraquara se multiplica. Tem a cidade que você vê agora, passeando pela Rua 2. A cidade do cotidiano, onde trabalhamos para que exista uma Araraquara ainda melhor em nosso futuro.

Mas ela pode ser também uma cidade fantasma, aquela que não existe mais, mas segue viva em sonhos, pensamentos e em nossa personalidade. É a cidade que não está aqui hoje, mas segue presente em nós.

Papo de velho, né? Do alto dos meus 53 anos, experiência risível perto da vivência dos setentões e oitentões por aí, já enxergo vários desdobramentos da cidade. Só imagino quantas Araraquaras eles conseguem enxergar. Fascinante.

De minha parte, quando vejo o supermercado na esquina da José Bonifácio com a Rua 3, só consigo lembrar da tarde ensolarada em que fui com minha mãe ao Jumbo Eletro e preferi ficar no carro esperando que ela resolvesse algo rápido lá dentro.

Dentro do carro, naquele estacionamento, liguei o rádio e ouvi uma música nova do Lulu Santos, “Casa”, que achei bacana, mas nunca confessei a ninguém, porque 1983 era o auge das bandas de Metal que invadiam minha adolescência e, em meio a discos do Kiss, AC/DC e Iron Maiden, não cabia Lulu Santos.

Quando passo pela Rua 3, ali na altura da Câmara Municipal, só consigo lembrar do Cine Capri e do Cine Veneza, onde meu pai levava a família ao cinema para assistir filmes como Guerra nas Estrelas, Superman e ET. Mais tarde, já com idade para ir ao cinema com os amigos, lembro até hoje de quebrar meu recorde e assistir cinco vezes De Volta Para o Futuro e Alien, o Oitavo Passageiro. Muitas vezes a gente assistia de novo emendando a primeira com a segunda sessão.

Quando passo na esquina da Rua 4 com a Bonifácio, ainda consigo ver o Rei Bar e a mesa onde me sentei um dia para conversar com o saudoso jornalista e radialista José Conde Sobrinho e ambos choramos de saudade do meu pai, Sidney Schiavon, que tantas vezes escreveu nas páginas desse Imparcial e falou no rádio ao lado do Conde. E era naquele mesmo Rei Bar que meu pai comprava os baurus que eu e meus irmãos ficávamos esperando ele levar para casa depois de sair do jornal.

Quando passo na frente do Estádio Municipal, ainda vejo o carrinho de lanche do Seu Marley, que fazia o famoso “Hamburgovo” e colocava um vinagrete especial em cima da carne, que ficava fritando enquanto ele atravessava a rua e ia lavar as mãos na torneira do posto de gasolina, que ficava onde hoje se encontra o restaurante anexo ao pub.

E quando passo em frente à agência do Correio, na Avenida Brasil, vejo-me sentado naquela escada, ainda novinho, beijando uma menina que depois invadiria meus pensamentos por semanas a fio.

É uma cidade fantasma, uma morada de sonhos, de jogar bola, tomar sorvete, ver filme e se relacionar com pessoas muito amadas, que não estão mais aqui, mas seguem muito vivas. Araraquara se divide em milhares, sob o ponto de vista de cada um que vive, trabalha e sobrevive aqui. Já são mais de 200 anos de solidão, amor e esperança.

A todas essas Araraquaras, somos gratos, pois seguimos aqui caminhando em direção a novas versões da cidade que amamos. Parabéns à nossa morada.

(*) Roberto Schiavon é jornalista

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