terça-feira, 2, julho, 2024

Centro de Ressocialização de Araraquara: Há 21 anos transformando histórias de vida

Unidade visa humanização da pena e aposta em trabalho, estudo, família e religião como ferramentas de reinserção social

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Por José Augusto Chrispim

O Centro de Ressocialização (CR) Masculino de Araraquara completou 21 anos de atuação nessa terça-feira, 20 de dezembro. Em duas décadas de história, a unidade prisional mantém a proposta de humanização da pena e aposta em quatro pilares fundamentais como forma de reinserção do indivíduo preso: família, trabalho, religião e estudo.

Dentre esses pilares, pode-se destacar a Educação que vai desde o ensino fundamental até o curso superior que recentemente formou sua primeira turma no curso de ‘Ensino Superior à Distância de Tecnólogo em Logística’, realizado através de um convênio com a Faculdade UniLins, que tem sede na cidade de Lins (SP).

Capacidade

O estabelecimento penal tem capacidade para 216 reeducandos, mas, atualmente abriga 208, entre os regimes fechado e semiaberto. Deste total, 91trabalham em várias secretarias municipais, através de uma parceria com a prefeitura de Araraquara, outros 33 prestam serviços em três empresas privadas da cidade. O restante dos internos presta trabalho interno (limpeza, cozinha, reparos) ou na área externa da unidade.

Educação

Atualmente 82 reeducandos estudam na unidade. O ensino, que é realizado por educadores da Escola Estadual Victor Lacorte, vai desde o ensino fundamental até a conclusão do ensino médio.

Em agosto de 2021, teve início a primeira turma que contava com 15 presos no curso universitário de Tecnologia em Logística, na modalidade de Ensino a Distância (EaD).

Isso foi possível porque o Centro Universitário de Lins (Unilins) firmou, por meio da Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap), uma parceria inédita e pioneira com o CR Masculino de Araraquara e outras 11 unidades da região de Bauru e Lins.

O estabelecimento penal oferta também diversos cursos profissionalizantes, palestras e projetos visando a reinserção social do indivíduo preso, como, por exemplo, ação de incentivo à leitura, que consiste em disponibilizar os livros nas Alas Habitacionais. Assim, o detento não precisa se dirigir à biblioteca para ler.

Entre as atividades realizadas no Centro de Ressocialização, estão também sessões de cinema, para levar entretenimento aos internos com a exibição de filmes e entrega de pipoca, uma vez por mês; eventos religiosos aos sábados e domingos; e torneios diversos entre os presos, como campeonato de xadrez.

Escritor

Entre os reeducandos, um homem, de 61 anos, está escrevendo um livro que fala da sua visão do sistema prisional e de como a passagem dele pelo CR de Araraquara transformou a sua vida. “Ele já escreveu um livro sobre a sua terra natal, a cidade de Itápolis, e agora está trabalhando nesse novo livro que vai retratar a sua visão do sistema prisional e como ele afetou de forma positiva a sua vida. Logo ele será publicado e isso também é um motivo de orgulho para nós”, destaca o diretor.

Horta

Para o diretor da Unidade, Otácio Manoel da Trindade Filho, com o incremento da horta existente na área externa da unidade prisional, tanto os reeducandos como os funcionários, tiveram um salto de qualidade nas refeições e na qualidade de vida dos presos envolvidos na manutenção da plantação que vai de alface à berinjela. “Além do público interno, a nossa horta ajuda também outras entidades que são assistidas pelo Banco de Alimentos do município. Quando eu cheguei aqui, a horta era bem acanhada, mas, aos poucos o nosso pessoal conseguiu aumentar e diversificar a produção, contando inclusive com cursos na área de horticultura. É muito gratificante para a gente ver o trabalho dar frutos literalmente”, comemora o diretor.

Carreira

O diretor do CR Masculino de Araraquara, Otácio Manoel da Trindade Filho, tem 51 anos, e está na Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) há 30 anos. “Em 1991 passei em um concurso para a Secretaria de Educação da minha cidade, Presidente Venceslau, para o cargo de escriturário, mas depois de um ano, ingressei na SAP como agente penitenciário. Na Penitenciária P-I de Presidente Venceslau, trabalhei por 9 anos inicialmente, depois ajudei a inaugurar a P-II na mesma cidade. Nesta unidade prisional fui diretor de oficina e depois diretor de produção por 5 anos. Em seguida, fui transferido para a penitenciária P-II de Avaré de onde depois voltei para Presidente Venceslau. No ano de 2012, vim trabalhar na penitenciária de Araraquara como supervisor e, desde 2020, fui promovido a diretor técnico do Centro de Ressocialização masculino de Araraquara”, conta Otácio que destaca que toda equipe da unidade busca promover a reinserção do homem preso. “Para isso, seguimos as diretrizes emanadas na Lei de Execução Penal, com o objetivo de resgatar valores essenciais para a dignidade humana”, ressalta.

Reconhecimento

O diretor também tem outro motivo para comemorar. É que no dia do aniversário da unidade prisional, ele foi agraciado com o título de Cidadão Araraquarense, concedido pelo presidente da Câmara Municipal de Araraquara, Aluísio Braz, o Boi.

“Me sinto muito feliz e grato pela homenagem que seria feita na Câmara Municipal, mas atendendo a meu pedido, foi realizada aqui no CR, pois, acredito que o maior motivo para que ela fosse feita é o trabalho que eu desenvolvo aqui junto de meus companheiros. Nada mais justo que todos participem dessa homenagem comigo”, relata.

Redação

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