Música e poesia marcaram a Sessão Solene que tornou Rogério Noia da Cruz o mais novo Cidadão Araraquarense. A homenagem e entrega do título foi feita pela vereadora Fabi Virgílio (PT) na noite da segunda-feira (9), no Plenário da Câmara Municipal.
Representando o Executivo, a secretária municipal de Cultura, Teresa Telarolli, contou que seu primeiro contato com o poeta ocorreu há 20 anos, momento no qual ele começou a se fazer mais presente em Araraquara. “Esse é um momento em que a gente só formaliza uma condição que o afeto construiu, o afeto mútuo. Essa é uma homenagem da cidade para o seu olhar, para o seu talento e para o seu amor pelas palavras.”
De surpresa, Maria de Fátima Scandinari, esposa do homenageado, foi convocada para se manifestar e foi bem direta. “Não sou de falar, sou mais de escrever, mas acho que hoje a ocasião até merece. Ele merece isso, ele é mais araraquarense que todo mundo. Ele gosta dessa cidade, gosta desse povo.”
Para Fabi, Noia é um incentivador da cultura da cidade. “Está presente em todas as rodas de samba, cantos, saraus. Percorre a cidade como um poeta que percorre a rima. Em vida de poesia, nas curvas e linhas da cidade, Rogério Noia estava aqui e sempre esteve. Sempre atuante e constante. E o que eu acho mais maravilhoso disso tudo é que ele não era filho dessa Morada, nasceu fora, na capital, e desde muito cedo foi criado no Alagoas, e só fui descobrir isso quando me tornei vereadora.”
A vereadora enfatizou que a homenagem abre a programação da 2ª Semana Municipal de Valorização dos Compositores Locais “Pedro Paulo Zavagli – Spiga”, e não perdeu a oportunidade de um dueto musical com o poeta, cantando a música por ele composta para homenagear o poeta araraquarense José Roberto Telarolli, o “poeta da Vila”.
Após receber o título, o homenageado, emocionado, encerrou a solenidade agradecendo a lembrança. “Foi graças ao Spiga que vim para cá. Eu é que devo para Araraquara, não Araraquara para mim. Tenho que fazer mais coisas por Araraquara e vou tentar. Tem muita cultura aqui!”
A solenidade foi transmitida ao vivo pela TV Câmara no canal 17 da NET/Claro, no Facebook e no YouTube, e poder ser conferida na íntegra aqui.
Sobre o homenageado
Rogério Noia da Cruz nasceu em São Paulo (SP), em 9 de outubro de 1963, porém passou sua infância, até os 5 anos, na cidade de Água Branca, sertão de Alagoas, onde travou seus primeiros contatos com a poesia ouvindo os cantadores, repentistas e poetas de cordel que frequentavam a cidade.
Em 1968, sua família decide morar em São Paulo. O choque entre a vida no sertão e a imensa metrópole acaba por influenciar o pequeno poeta em suas futuras composições. No final da década de 1970, ele conhece o também poeta e compositor Pedro Paulo Zavagli, o Spiga, com quem passa a conviver na boêmia paulista. Nessa época, conhece vários intelectuais e artistas que influenciaram sua obra, entre eles Paulo Vanzolini, Jorge Costa, Zé Keti, Carlinhos Vergueiro e o artista plástico Alderico de Freitas.
Em 1981, Noia muda-se para Paranaguá, litoral paranaense, onde trabalha como técnico de controle de qualidade em uma empresa de construção de plataformas marítimas. Entretanto, a saudade da noite paulistana o traz de volta à Terra da Garoa. Em seu retorno, Noia vem cheio de novas ideias e projetos, alimentados pelos sonhos de poeta.
Ele ingressa na Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); lança o primeiro livro, “Fato ato feito”, em 1982; funda e preside por quatro anos o Grupo Artístico e Cultural Vinicius de Moraes, editando cinco antologias poéticas resultantes de concursos literários em parceria com o Sesc-SP; filia-se à União Brasileira de Escritores; e intensifica sua produção poética, lançando em 1983 mais um livro, o “Círculo Contínuo”, que recebeu muito boa aceitação pela crítica e pelo público.
Em 1990, edita a coletânea “Poeta e Poesia”, de poemas escolhidos de obras anteriores e poemas inéditos. De 1990 a 2003, há um hiato em sua trajetória literária devido a mudanças em sua vida, retornando então com o livro “Vida Versada em Samba e Soneto”, que traz capa de Elifas Andreato e prefácio de Milton de Godoy Campos.
O poeta, a partir de então, passa a compor poemas para serem musicados, tendo nove deles gravados no CD “Banana Creola”, em parceria com Pedro Paulo Zavagli e Paulo Muniz.
Noia monta o bar Cervejaria Tradição, no bairro de Pinheiros, em 1994, onde havia semanalmente shows de MPB, na tentativa de obter sustento e, ao mesmo tempo, estar ligado à boêmia e ao meio artístico e intelectual. A empreitada – apesar dos esforços de amigos, como o sambista e compositor Zé Keti, Carmen Queiroz, Inezita Barroso, Filó Machado e muitos outros que iam para dar shows ou para dar só uma “canja” na madrugada –, não deu certo e mais uma vez a saída foi continuar no comércio de produtos químicos.
Em 2007, surge mais um livro, “Girassol”, e em seguida, em 2009, começam as gravações do CD “Pequeno Ensaio de um Poeta em Construção”, em que assina as letras sozinho e grava com parceiros como Eduardo Gudin, Ibys Maceioh e Teroca, entre outros, e participações de grandes músicos e intérpretes, entre eles, Dominguinhos, Renato Teixeira, Silvinho Mazzucca, Osvaldinho da Cuíca, Carmen Queiroz, Dona Inah e Sérgio Turcão.
Em 2011, participa do CD “Fulanos, beltranos, sicranos”, da cantora Sandra Nunes, compondo uma das faixas, a de número 12, com o samba “Poeta das Vilas”, em homenagem ao poeta araraquarense José Roberto Telarolli. Este samba deu origem ao projeto “Poeta das Vilas”, que foi executado em agosto de 2013, com o lançamento de CD de mesmo título, exposição e show em homenagem ao sambista da Vila Xavier, tendo sido Rogério Noia o idealizador e produtor do evento.
Já a ligação do poeta, músico e compositor com Araraquara vem de muito tempo. Após conhecer o poeta Spiga, em 1978, Noia passou a frequentar a cidade nos últimos 36 anos e a morar nos últimos anos, fazendo grandes amigos e parceiros na Morada do Sol, como a cantora Silvinha Haddad; o compositor e parceiro Teroca; o jornalista e escritor José Carlos Magdalena; o jornalista Luís Zakaib, com quem viajou para Cuba em companhia do mestre Osvaldinho da Cuíca, participando do documentário “A Revolução da Cuíca”; a comunidade nipo-brasileira em Araraquara; e moradores da Vila Xavier.
Em 2014, o poeta lançou mais dois livros – “Poemas Reunidos – 30 Anos”, que tem também sua versão em espanhol, e “Luzes & Letras”, poemas e fotografias, além do CD “Dois Seres”, com músicas inéditas de sua autoria e com parceiros.
Semana Municipal de Valorização dos Compositores Locais
O Dia do Compositor Brasileiro é celebrado, anualmente, em 7 de outubro. Os compositores são as pessoas que criam músicas, seja a letra ou a sua melodia. Essa data é uma homenagem aos artistas brasileiros que se imortalizaram como mestres da composição musical. Essa data foi criada em 1948 pelo cantor e compositor Herivelto Martins, que integrou a União Brasileira dos Compositores (UBC) na década de 1940.
Pedro Paulo Zavagli, também conhecido como Spiga, é um poeta e letrista brasileiro que trabalhou em parceria com Ibys Maceioh, Mario Mammana, Rogério Noia, entre outros expoentes da MPB. Teve participação no disco Leite Preto, de Carmen Queiroz. Figura emblemática da Vila Xavier, cresceu junto ao poeta José Roberto Telarolli, do qual contava várias histórias da juventude e das rodas de samba. Conhecido de todos na Vila e nas rodas de samba, Spiga compôs mais de 80 poemas/canções, grande maioria no gênero samba.
A Semana Municipal de Valorização dos Compositores Locais “Pedro Paulo Zavagli – Spiga” tem como objetivo descobrir compositores locais e ajudá-los a difundir com parcerias que promovam, incentivem, valorizem e tragam sempre pulsantes as obras dos araraquarenses talentosos.
Programação
Quarta-feira (11), às 19 horas, na Praça das Bandeiras: apresentação dos premiados na 1ª Semana Spiga: Kris Pires, Preto Neill e Vinicius Zurlo como artista convidado.
Quinta-feira (12), às 17 horas, na Praça do Daae, na Fonte Luminosa: Programação do Dia das Crianças – show com Cia. Dois Palitos.