Ser mulher na política é ter que ser desdobrável. E incansável!

No Dia da Mulher, vereadora fala sobre a importância da presença feminina na política

Mais lido

Vereadora Fabi Virgílio (PT) / Colaboração

Amo poesia porque ela nos aproxima das pessoas e começo citando a imortal Adélia Prado, que mineiramente nos traduz. Mulher é desdobrável e eu sou. Na política, onde cumpro meu segundo mandato como vereadora, e na vida toda, desde a Vila Gaspar. Quanto caminhar. Escolhi falar um pouco sobre a mulher que está na política e que ousa ter opinião e posicionamentos em um local de falas e escolhas que buscam reforçar a posição do mundo masculino, branco e de bem com as finanças. E não falo aqui de ideologias.

Desde a nova república, Araraquara elegeu somente 15 mulheres como vereadoras. Incluindo essa legislatura, na Câmara dos Deputados somos 18% e no cargo de chefe do Executivo, somos 13%; elegemos só uma mulher presidenta, Dilma Rousseff, injustamente golpeada e em Araraquara, ainda não conseguimos eleger uma mulher prefeita e esses dados falam muito sobre o machismo estrutural do qual estamos colocadas.

Somos mais de 51% da população e mães da outra parte, mas para determinadas pessoas, ainda somos vistas somente para funções do servir e cuidar. Pensa comigo o quanto isso fala sobre como as políticas públicas foram estruturadas e a tamanha morosidade para alicerçarmos pautas tão nossas e emergentes, que por décadas foram desdenhadas e invisibilizadas. Por que? Porque somos colocadas na prateleira das pessoas que precisam ser tuteladas, silenciadas, tidas como loucas.

E na realidade, sabemos, que quando a gente chega, mesmo que com o dobro de esforço, a gente abre caminho para que a nova política aconteça de verdade, políticas que possam melhorar a vida de outras mulheres e de toda sociedade tais como: dignidade menstrual, direito reprodutivo, planejamento familiar, economia dos cuidados, saúde da mulher, lei da igualdade salarial, criação de mecanismos para a inserção de mulheres vítimas de violência no mercado de trabalho, Casa da Mulher Brasileira, Lei Maria da Penha, entre outros… e quando a mulher chega num espaço de decisão, o que é colocado em regra na construção política é o bem-estar da população e não interesses individuais em detrimento do público. Não à toa, segundo dados realizados pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a pedido da Fundação Lemann, lideranças femininas têm até 35% menos chances de se envolver em casos de corrupção do que as masculinas, portanto, mulheres fazem bem para a política.

Ser mulher na política é ter que conviver e lutar (ou se defender) do machismo manifesto de diversas formas: se você coloca um vestido que marca teu corpo, te olham com olhos gulosos e fazem “brincadeiras tradicionais – nossa se eu não fosse casado”, se você coloca um jeans e uma camiseta, perguntam: que roupa é essa, você vai assim para a sessão? Se você está participando de alguma reunião, te cortam de maneira proposital, interrompendo seu raciocínio sempre, se você é questionadora, fica sendo tachada como a “chata”, se você eleva a voz, é tida como “louca” ou “está naqueles dias”? Se você fala algo, automaticamente é descreditada, aí vem outro homem e diz a mesma coisa, e todos concordam, ou seja, estar na política requer ser desdobrável, para poder persistir, resistir e fazer a diferença.

Enquanto vereadora, tenho o hábito de conduzir os mandatos de maneira coletiva, sempre orientado pela participação de todas as pessoas que queiram construir, por isso, sou adepta das Frentes Parlamentares, e a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Mulheres e Meninas, iniciada pelo mandato da então vereadora Márcia Lia (2008-2012), hoje deputada, e segue sendo sequenciado por mim, de maneira que são diversas mulheres a construírem essa pauta e eu sou instrumento. Com participação popular, nosso mandato vai mudando a cidade, tais como:

– Lei do Cinema Inclusivo, que obriga as salas de cinema a realizarem sessões adaptadas para quem tem hipersensibilidade sensorial,

– Programa de Promoção da Dignidade Menstrual, com distribuição gratuita de absorventes às mulheres em vulnerabilidade social (programa absorvido depois pela lei federal);

– Inclusão no Calendário Oficial de Eventos do Município o “Dia Marielle Franco – Dia de Luta contra o genocídio da Mulher Negra”;

– Criação da “Semana Municipal de Conscientização e Ações voltadas à Promoção da Lei Maria da Penha”;

– Criação da “Semana Municipal da Conscientização sobre a Menopausa”, para discutir um tema tão tabu em nossa cidade.

– Apoio à Campanha “Luto Contra as Violências” e sua inclusão no Calendário Oficial de Eventos do Município.

–  Criação do “Programa ao Agressor”, que obriga o homem autor de violência contra a mulher a participar de grupos reflexivos e/ou espaços de educação e reabilitação para que não reincida no ato de violência;

– Programa de Distribuição de Remédios à base da Cannabis, também é uma luta das mulheres e nós fizemos e queremos ampliar.

Nesse ano já protocolei dois novos projetos afetos ao universo da mulher:

-PL 56/25 – Assegura às gestantes em acompanhamento na rede pública municipal de saúde a realização de exames adicionais durante o pré-natal. Aumentando o acesso a mais um ultrassom obstétrico e a um ultrassom morfológico.

– PL 57/25 – Que cria a Campanha Municipal Laço Branco – Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, a ser realizada anualmente na primeira semana de dezembro.

E com a força do trabalho, da dedicação e compromisso com o legislativo, a gente vai mudando os espaços, educando e formando quem precisa, derrubando preconceitos, conquistando os espaços e tendo que se fazer escutada, mesmo que alguns descreditem, mas nós estamos aqui e não vamos parar, até termos uma sociedade com igualdade de gênero e que entenda que somos o que quisermos ser, e ninguém vai nos tutelar.  Gratidão.

Mais Artigos

Últimas Notícias