O rock’n roll sempre foi um lugar de mulheres, já que tem sua história marcada por grandes nomes que colaboraram para moldar e ampliar este estilo musical – Sister Rosetta Tharpe, Celly Campello, Aretha Franklin, Janis Joplin, Tina Turner, Baby Consuelo (Baby do Brasil), Patti Smith, Rita Lee, Debbie Harry, Cássia Eller – entre várias outras. Com atitude, rebeldia, beleza, poesia e força, além da fúria dos grandes amores, elas sempre desafiaram estruturas conservadoras em prol da liberdade.
Para celebrar o rock, o Araraquara Rock conta com a participação de mulheres que trazem o radicalismo, o experimentalismo, a força e a sensualidade para a live deste sábado, 31 de outubro. O festival é, sim, um lugar de mulheres e todas são muito bem-vindas! As apresentações ao vivo podem ser acompanhadas pelo canal da Prefeitura de Araraquara no YouTube, com link disponível nas redes sociais, a partir das 19 horas.
Kelly Hipólito e Nathalia Schick são duas roqueiras de Araraquara que participam do festival no sábado e levam coragem, força, talento e atitude para suas apresentações, comprovando que o rock é lugar de mulher, sim! Por isso trazem sua boa música para somar ao Araraquara Rock.
A vocalista da banda Blixten, Kelly Hipólito, desde muito nova sempre foi ligada em música. “Aos 8 anos eu já queria cantar, mas foi apenas aos 13 anos que tive minha primeira banda”. Ela conta que participou de diversas bandas em seus 13 anos de carreira. “Acho que a que mais me impactou foi a Nagar (que virou Acht um tempo depois), nela eu pude compor, mostrar o que eu tinha pra falar, e apesar de nunca termos nos apresentado ao vivo, eu aprendi demais na questão de produção musical, e nuances de vocal”.
Para ela ainda existe “olho torto” para a mulher no rock. “Mas estamos aí pra mudar isso, sempre”, aponta. “Mulher no rock’n roll sempre existiu, temos exemplos de Viola Smith e Sister Rosetta Tharpe, que inclusive foram duas mulheres, sendo uma negra, imagina? A gente aqui lutando contra o machismo e o racismo e elas duas lá nos anos 40 metendo o pé na porta?”, lembra.
Kelly já sentiu o peso do preconceito. “Já fui discriminada lá no comecinho de tudo, porque era estranho uma menina querer cantar Iron Maiden e Whitesnake tendo 14 anos! Era pra eu estar cantando músicas fofas ou brincando de boneca… pra quem me via de fora, claro! Eu fazia questão de provar pra todo mundo que eu não era obrigada a atender expectativa de ninguém, apenas o meu sonho interessava. Eu sempre soube que teria preconceito, fui muito bem preparada pra isso, ouvi todas as críticas e enfrentei de peito aberto, nada nunca me desanimou”.
Como referências no rock, Kelly cita Doro Pesch, Lita Ford e Leather Leone. “Estas três que me puxaram pra cima e me mostraram que eu sou capaz de tudo se eu tiver paixão”. Também, como “roqueira família” que é, aponta sua mãe e suas avós como inspirações. “Minha mãe por ter enfrentado com a minha avó materna um pai autoritário e que bebia demais. Minha avó paterna deixou de seguir o sonho dela porque o marido não queria que ela trabalhasse. E ela me falava pra fazer exatamente ao contrário: que eu era dona de mim e nada mais”.
E é assim, cheia de si, que Kelly chega para o Araraquara Rock para uma Jam Session com a banda Araraquara Rockers e Bruno Sutter. “Fui convidada pra fazer uma participação e soube que Bruno Sutter estava envolvido nessa festa toda! Fiquei muito feliz de poder fazer parte e de ser lembrada, não apenas por admirar o Sutter e achar ele um grande artista e pessoa, mas por ter músicos de Araraquara participando, e são músicos extremamente competentes”.
Já Nathalia Schick, da banda Pluggit, vai tocar no festival com sua banda que começou em 2013 criando versões acústicas para o YouTube, personalizando e dando nova cara pra todo tipo de música pop rock e eletrônica, com dedilhados e vozes que caracterizam a banda ainda hoje.
Nathalia começou a cogitar a hipótese de investir na música aos 16 anos e, desde muito nova, foi incentivada a gostar de música pela família. “Mas, como ninguém era integrante de banda nem nada, eu demorei pra começar a ir atrás e entender que era isso que eu amava fazer”.
Entre as bandas e artistas que a levaram a gostar mais do estilo rock estavam: Rita Lee, Cazuza, Cássia Eller, Charlie Brown Jr., CPM 22, Pitty, além de Paramore, Pink, Foo Fighters – entre outros. “Particularmente sempre me agradou muito bandas com essa pegada mais rock alternativo e até mais pop rock”, lembra.
“Eu fico feliz de estar representando as mulheres fazendo parte de um evento tão incrível que é o Araraquara Rock, mas ao mesmo tempo sinto que gostaria que mais mulheres estivessem ali no palco participando desse evento”, confessa Nathalia. “Eu sinto falta de mais mulheres no rock. Temos grandes nomes da música com mulheres no vocal, mas o número ainda é muito pequeno comparado ao número de homens no vocal. Não que eu ache que os homens não tem que estar ali, inclusive acho esse pensamento super errado, pois temos espaço pra todos”.
Nathalia conta que já fez parte de uma banda onde todas as integrantes eram mulheres. “Posso dizer com toda certeza que os shows eram tão incríveis quanto os das bandas só formadas de homens!”, aponta certeira. “Acho que ainda não temos tanto espaço quando gostaríamos. Ainda existe uma grande barreira quando o assunto é feminismo, pois existem pessoas que ainda acham que feminismo é o machismo inverso e não o direito por igualdade”.
Ela afirma que mulheres e homens devem ter os mesmos direitos de oportunidades de crescimento pessoal, intelectual, de respeito, de escolhas, de ir e vir e etc. “E essa é a luta feminista, igualdade de direitos e de condições das mulheres na sociedade”, explica.
Entre suas referências femininas, no rock e na vida, estão: Rita Lee e Cássia Eller (rock nacional), Pink (rock internacional) e Lady Gaga (pop interacional). “Nem preciso falar das vozes que são incríveis, mas essas mulheres quando sobem no palco deixam qualquer um de queixo caído com as suas performances. Na vida eu admiro muito mulheres que seguiram seus sonhos e abriram as portas pra outras mulheres acreditarem que era possível. Posso citar nomes como: Marta do futebol, Fernanda Montenegro no cinema, Elis Regina na música popular, Madonna no pop, Hebe Camargo na TV, Frida Kahlo pintora, Janis Joplin cantora e compositora, entre outras mulheres incríveis que lutaram (e lutam) muito pelo nosso espaço. Graças a elas, que tiveram coragem de ‘botar a cara a tapa’, nós estamos cada vez mais conquistando o nosso espaço no esporte, na música, na arte, na tv, na vida!”.
Para finalizar, Nathalia manda um recado para as roqueiras de plantão: “Ah, e você que é mulher ama rock e sonha em subir no palco e mostrar seu trabalho, não tenha medo e se inscreva no próximo Araraquara Rock! É indescritível o quão maravilhoso é estar ali mostrando pro público as suas músicas. Então não deixa passar e vem também fazer parte desse evento!”.