quinta-feira, 4, julho, 2024

Lupo: uma senhora de 102 anos moderna e competitiva

Fábrica expande produção na região Nordeste do país, mas sem perder o DNA araraquarense

Mais lido

Por José Augusto Chrispim

Pensando sempre de forma inovadora, a direção da Fábrica Lupo está expandindo sua atuação na região Nordeste do país. Com duas novas fábricas no estado do Ceará e uma na Bahia, a empresa araraquarense que em 2023 completará 102 anos de fundação, quer ampliar ainda mais a atuação no mercado brasileiro e alavancar as vendas com preços competitivos através dos incentivos fiscais praticados nas cidades onde estão instaladas as novas plantas.

Simbiose com Araraquara

Para a presidente da Lupo, Liliana Aufiero, apesar da ampliação das atividades na região Nordeste do país, a identidade da fábrica fundada por seu avô, Henrique Lupo, em 1921, continua sendo de Araraquara.

“Existe uma grande simbiose entre a Lupo e Araraquara, elas sempre foram abraçadas entre si. A Lupo sempre fez muita questão de agir na parte social da cidade, na vida dos que trabalham com a gente, em todos esses anos, sempre tentando fazer a melhor harmonização possível de uma indústria de 102 anos com a população da cidade de Araraquara. Sempre foi isso, foi uma vaidade muito grande, pois, as pessoas se referem sempre a Araraquara lembrando que aqui tem a Lupo e isso é muito gratificante para nós. Recentemente, nós conseguimos o registro da marca Lupo pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como ‘Alto renome’ que é um fato raro entre as indústrias têxteis registradas como Alto renome, é dificílimo de obter, e esse título é dado somente depois de uma análise de como o nome é visto, se ele é reconhecido. Então eu lutei muito para não sairmos de Araraquara, mas quando nós compramos a Trifil, em dezembro de 2016, ela tinha a sua sede em Guarulhos (SP) e uma unidade na cidade de Itabuna, na Bahia. Esse foi nosso primeiro passo fora de Araraquara, apesar de já termos atividades através de terceiros aqui na nossa microrregião, como em Guatapará, Matão, etc. Mas dar um passo grande como esse como estar em Guarulhos e depois na Bahia, foi a nossa primeira vez. E nosso plano foi crescer na Bahia e não trabalhar em Guarulhos, então durante um período de transição, nós tivemos um pouco de atividades na unidade de Guarulhos e, em seguida, conseguimos fechar a Lupo nessa unidade, pois não quisemos dar continuidade dos trabalhos naquela cidade, para nós, no estado de São Paulo é a unidade de Araraquara mesmo. Assim sendo, incentivamos a unidade da Bahia, onde levamos um tempo até conseguir resultados, até conseguir colocarmos a cara da Lupo, foi quando nós vimos que estava muito difícil trabalhar na região de Araraquara em busca de mão-de-obra para o ramo têxtil. Por outro lado, existe uma região no Ceará que é muito dedicada ao ramo têxtil, eles nasceram vendo o ramo têxtil na frente, é uma coisa histórica, além disso, os incentivos fiscais do Ceará para a instalação de unidades industriais com redução de ICM, favorece muito o crescimento. Ao longo desses quase 102 anos, os concorrentes foram chegando e a coisa vai se dificultando, tem concorrentes de fora do Brasil que não têm tantas exigências e impostos como a gente tem aqui, então você pensa que se tem em uma gôndola de supermercado, um produto Lupo e um produto desses concorrentes de fora com um valor um pouco menor, o consumidor acaba comprando o de outra marca. Por isso, é que a gente tem que fazer o consumidor pagar em um produto da Lupo, o mesmo preço que ele paga no produto de fora. E como eu faço para reduzir o meu custo? Procurando regiões onde eu tenha incentivos fiscais. Então, em busca de reduzir o custo, eu tenho que procurar dentro do Brasil, que é onde eu faço questão de estar depois de Araraquara, uma região que nos favoreça.

Quando me perguntam se eu vou romper a simbiose com Araraquara, eu digo que chegou o momento em que eu tenho que fazer isso, apesar de sempre continuar sendo ligada à Araraquara, mas precisamos expandir nossos negócios, precisamos continuar vivos no mercado que é muito competitivo. Por motivos econômicos e estratégicos, nós adquirimos essas novas fábricas na Bahia e no Ceará, porém, a nossa ‘menina dos olhos’ sempre será a fábrica de Araraquara, onde tudo começou e se transformou até chegar nos dias de hoje como umas das marcas mais importantes do segmento no país. Porém, se nós estamos instalados em cidades do Ceará, é claro que teremos que cuidar bem dessas cidades também, serão novos amores, novas raízes. Nós adquirimos um novo imóvel industrial na cidade de Pacatuba (CE), na região de Fortaleza, onde agora estamos colocando os nossos produtos. Continuamos com a força de trabalho que havia lá com cerca de 600 pessoas, agora para fazer os nossos produtos, desde 1º de abril deste ano, quando a gente oficialmente inaugurou as nossas novas instalações com o nome de Lupo Nordeste, já com cerca de 1.200 funcionários ao todo. Lá, assim como em Araraquara, a maioria dos nossos funcionários é formada por mulheres, muitas delas chefes de família. Isso começou lá com meu avô, quando as mulheres passaram a colaborar com a economia familiar e continua assim até hoje. Somando com os 6.300 funcionários da unidade de Araraquara e os 2 mil na Bahia, hoje empregamos cerca de 9.500 pessoas. Na unidade do Ceará, nós concentramos o corte e costura, ainda não utilizando os teares de meias e os produtos sem costura que usamos aqui, por exemplo. Mas em seguida, nós compramos outra unidade no Ceará, onde apareceu uma oportunidade de adquirirmos não o imóvel, mas os equipamentos e a infraestrutura como o tratamento de esgoto, a subestação de energia, a instalação para a ligação das máquinas, enfim tudo que faz os equipamentos funcionarem, mas o prédio será alugado. Os produtos que serão feitos nessa unidade, as malhas, serão utilizados na fábrica de Pacatuba, ao invés de comprarmos produtos de fora, com isso, esperamos reduzir os custos”, destaca a presidente.

Maior conquista

Para Liliana, a sua maior conquista enquanto presidente da Lupo é estar dando continuidade ao trabalho que começou com seu avô. “Eu acho que a minha maior conquista é estar dando continuidade a algo que começou com o meu avô, passou por algumas oscilações perigosas, mas que foram superadas e nós fomos crescendo e mantendo o nome sempre no alto. Em 1993, quando eu assumi, foi um momento muito difícil. E, superado esse momento difícil, eu acho que a maior conquista é estarmos vivos, crescentes, modernos e competitivos. Uma senhora de 102 anos moderna e competitiva, esse é o nosso maior desafio. E deve continuar sendo sempre moderna e competitiva, usando a tecnologia e toda a parte de evolução dos sistemas de comunicação que o momento nos traz e que trará cada vez mais. Procuramos sempre estarmos nos renovando em todos os sentidos, nos relacionamentos, no maquinário, na evolução da internet, na evolução do que virá após a internet, sempre estar antenado a tudo”, finalizou.

Quem é Liliana

Formada em engenharia civil, Liliana foi a primeira mulher a romper o tabu em 1963 de que só homens passariam no vestibular da USP Engenharia campus de São Carlos. Ela tem também pós-graduação em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mestrado em engenharia estrutural pela USP.

Liliana é a primeira mulher a comandar a Lupo – o posto foi assumido em 1993, em um momento difícil economicamente da empresa da família. De lá pra cá, a presidente sempre acompanhou as evoluções da tecnologia e investiu na atualização do maquinário e na valorização dos funcionários.

Redação

Mais Artigos

Últimas Notícias