segunda-feira, 20, maio, 2024

Moradora de Canoas faz relato emocionante  ao O Imparcial sobre situação no Sul

Água potável é um dos principais itens que podem ser doados para as vítimas através de campanha da Prefeitura de Araraquara

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Por José Augusto Chrispim

A situação vivida pelos moradores do estado do Rio Grande do Sul depois dos estragos causados pelas fortes chuvas que tiveram início em 27 de abril e ganharam força no dia 29, atingido diversas regiões está mobilizando os brasileiros que buscam de alguma forma amenizar a perda desses moradores das áreas atingidas. As áreas mais afetadas são os vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos, Gravataí, além do Guaíba, em Porto Alegre.

Situação de guerra

A reportagem de O Imparcial conversou com uma moradora da cidade de Gravataí. Aline, de 35 anos, é proprietária de uma agropecuária e relatou à reportagem que o município onde ela mora vive uma situação de ‘guerra’.

“Ontem eu sai na rua para procurar um mercado para tentar comprar comida e o que vi foi um cenário de guerra. Todo mundo nas ruas como se estivessem fugindo, ninguém respeitando os semáforos, estocando comida por não saber quando a situação vai voltar ao normal. Me deu uma angústia muito grande, muita sirene tocando de ambulâncias, polícia. Quem pode está fugindo para o litoral, eles estão sendo desviados por Alvorada que é o único caminho que tem ainda”, relatou a comerciante.

Relato emocionante

A reportagem conversou também com uma moradora de Canoas, cidade que é uma das mais atingidas pelas chuvas. Rosangela Carlos Aires relatou o que vivenciou nos últimos dias 3 e 4 de maio.

“O dia 3 de maio de 2024 começou como qualquer outro, continuava a chover como nos últimos dias, porém o que se falava até então era sobre outras cidades do estado que haviam sido atingidas pela água de forma devastadora, mas, assim como muitos do bairro Mathias Velho, aqui em Canoas, não se acreditava que chegaria até nós. Cheguei em casa por volta das 18h, alguns vizinhos já falaram sobre um caminhão que passara avisando para que fosse evacuado uma parte do bairro, contudo, morávamos a poucos quilômetros do mesmo.

À noite, por volta das 20h começam as notícias sobre as barragens que não estavam mais conseguindo segurar as águas, mesmo com as ações dos moradores e da prefeitura de colocar sacos de areia como barricada. Passei a ficar um pouco mais preocupada, ainda descrente da magnitude do que poderia acontecer, estava confiante que a água não subiria até o 2° andar onde moro, entre 21h e 22h a água começou a se acumular nas beiradas da rua e as notícias de que a água já estava inundando as casas no final da Mathias estavam cada vez mais frequentes, porém, persistimos na negligência de não sair do local confiantes que a água não ficaria tão alta. Da li em diante, a água não parou de subir e o pânico se estabeleceu no prédio onde estavam mais de 20 pessoas que também não acreditavam que a água tomaria tudo. Exatas 3h54 da madrugada a água tapou as calçadas e chegou a mais ou menos da linha da rua, pessoas começam a cruzar na rua com água na cintura e segurando mochilas indo em direção a entrada da Mathias onde a água não havia chegado. Barcos e jet-ski (com pessoas comuns dispostas a ajudar, que virar herois) fazem o destino contrário para salvar moradores já ilhados em suas casas. Passei a madrugada verificando o nível da água com medo de dormir e acordar com “água nos pés”.

Já no dia 4 de maio, às 5h da manhã, já não conseguíamos mais sair andando mesmo se quiséssemos a água já estava a uns 2 metros da linha da rua e os carros que estavam na calçada só se via o teto. Quem estava conosco no prédio começou a ficar com muito medo, assim como eu, passamos a chamar todo e qualquer barco ou jet-ski que passava, pedindo por ajuda, todos respondiam da mesma maneira ” vocês estão bem, a água nem chegou em vocês”. Já determinados a deixar o local todos estavam com suas coisas prontas para sair, mas nunca imaginaríamos que iríamos ficar esperando até as 16h para sair do local, mesmo entrando em contato com mais de 20 contatos de voluntários que estavam resgatando naquele momento e recebendo notícias dos mesmo dizendo  “que as pessoas estavam morrendo afogadas tentando subir nos barcos já cheios… que se a água não tinha chegado em nós, estávamos bem e poderíamos aguardar…”, mas por uma benção o pastor da igreja que meu irmão congrega que já estava indo a Poá buscar um barco para nós tirar daquela catástrofe, porém o contato era muito escasso por falta de sinal, bateria acabando. Então não conseguimos saber o momento exato que ele chegaria somente vendo a água não parando de subir e acreditando que ele viria nos salvar…

Então, depois de ficar das 6h desde quando tivemos o primeiro contato com o mesmo, as 16h ele chega para trazer o alívio de que não ficaríamos mais presos ali no local, onde era nosso porto seguro e que já não trazia mais segurança…

Ao saímos de lá no barco, com a água cobrindo toda as casas deixando visível somente os telhados, no caminho até onde fomos deixados nos deparamos com mais pessoas presas em telhados de casas de dois pisos clamando por ajuda, cenário horrível, pessoas chorando sem saber se iriam ser salvos… Mas, graças ao povo mobilizado em salvar o próximo, sábado, as 16h40 estávamos pisando em “terra firme”, fomos deixados no dique onde a água não estava mais com tanta força e poderíamos caminhar sobre ele e sair do bairro. No caminho, mesmo com o alívio de ter saído do meio da água, ainda assim víamos pessoas chorando, animais presos, mas também pessoas sendo salvas e animais nadando tentando se salvar daquele caos…

Saindo de lá, após uma longa caminhada chegamos em local seguro onde muitos voluntários ajudavam quem saia da água, conseguimos contato com amigos de Cachoerinha, e estamos aqui desde então, rezando para que as águas baixem e possamos voltar para casa e que Deus traga conforto as famílias que perderam tudo”, esse foi o relato emocionante de Rosângela.

Doações

A Prefeitura Municipal de Araraquara, por meio do Fundo Social de Solidariedade e da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, deu início nessa segunda-feira (6) a uma campanha em prol das vítimas das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias.

Serão arrecadados alimentos não perecíveis, roupas, cobertores, água e produtos de higiene. A campanha também terá o tema “Um por todos e todos por elas”, que visa arrecadar itens específicos para mulheres, como absorventes e peças íntimas.

À princípio, os pontos de coleta são o Fundo Social de Solidariedade de Araraquara, a sede da Guarda Civil Municipal e a Casa dos Conselhos, que iniciam seus atendimentos às 9h30.

Itens que podem ser doados:

• Colchões

• Água

• Produtos de higiene

• Absorventes e roupas íntimas para as vítimas mulheres

Pontos de arrecadação:

• Secretaria de Esportes e Lazer (Gigantão)

• Fundo Social de Solidariedade

• Sede da Guarda Civil Municipal

• Biblioteca Municipal Mário de Andrade

• Sede da MoradaCar

• Rede Drogaven

• Casa dos Conselhos

Redação

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