domingo, 7, julho, 2024

Racismo: Thainara Faria fala sobre ataques que vem sofrendo em redes sociais

“Nossa cidade não está acostumada com perfis como o meu ocupando espaços como o da Câmara”, acredita a vereadora

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Por José Augusto Chrispim

A vice-presidente da mesa Diretora da Câmara Municipal de Araraquara, a vereadora Thainara Faria (PT), fez um desabafo na sessão da Câmara realizada no último dia 15 de fevereiro, onde expôs toda a sua indignação com os ataques que vem sofrendo através das redes sociais desde que assumiu o seu primeiro mandato, em 1 de janeiro de 2017.

Em sua fala, a vereadora que foi a mais votada na última eleição municipal e também é a primeira negra no Legislativo araraquarense, citou algumas frases postadas em redes sociais com claro conteúdo racista, como: “não tem opinião própria, ela é teleguiada”; “não detém inteligência e nem tenacidade”; “é da costela alfa, mas sem sopro do Espírito Santo. Não carrega tal dádiva”; “mulher sem alma”. Nesta última, observa-se o que diziam as entidades nos séculos passados para justificar a escravização do povo preto. Já que não tem alma, pode escravizar.  E a última delas: “quem ela pensa que ela é?”, destacou a parlamentar.

Em seguida, ela expôs outras frases com ataques sofridos por ela e ressaltou que não abaixará a cabeça para os que a atacam e que é prova viva que esse sistema que pretende desmerecer as pessoas negras está com os dias contados. “Vocês fascistas não venceram, não irão vencer, não irão usar as costas do povo preto como palanque político”, ressaltou.

Racismo estrutural

Infelizmente, em pleno século XXI o racismo estrutural no Brasil é uma triste realidade. E não é à toa, pois o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. Até 134 anos atrás, os negros traficados eram mantidos em condições subumanas de trabalho, sem remuneração e tratados como uma raça inferior.

A Lei de nº 7.716, que define os crimes de racismo, foi assinada em 5 de janeiro de 1989, pelo então presidente da República, José Sarney. Ela passou a ser conhecida pelo nome de seu autor, o ex-deputado Caó. Porém, mais de 30 anos depois, muita gente ainda comete ofensas e atos racistas, principalmente por terem uma falsa ideia de proteção pela dificuldade de identificação do mundo digital. 

O Imparcial conversou com a vereadora, que lembrou que ainda há muito o que dialogar com a sociedade sobre o racismo, machismo e misoginia.  

Veja a entrevista na íntegra:

O Imparcial: Como primeira vereadora negra da cidade, você acredita que consegue representar essa parte da população como ela merece, já que ela é a maioria dos brasileiros?

Thainara: “Tenho confiança de que o nosso mandato entrega o melhor à população. E, dentro daquilo que é função do vereador, dou pessoalmente o melhor de mim. Mas sabemos que há inúmeras limitações em atuar neste cargo, por isso, não consigo entregar traduzido em políticas tudo o que o povo precisa, então articulo com outros poderes em outras esferas àquilo que não consigo fazer”.

O Imparcial: Você vê na sua reeleição como a vereadora mais votada na cidade em 2020, um sinal de que a maioria da população é contrária a essa visão racista dos que te atacam?

Thainara: “Fui a mais votada dentre 430 candidaturas, porém, o resultado final na Câmara Municipal é de três negros em meio a 18 parlamentares, isso sim é um sinal de que temos muito a superar quando o assunto é racismo”.

O Imparcial: Na sua opinião, quais são os principais motivos para os ataques que sofre dentro e fora da Câmara?

Thainara: “Sofro ataques porque fui a primeira mulher negra eleita em Araraquara. Nossa cidade não está acostumada com perfis como o meu ocupando este espaço. Neste sentido, penso que há muito a dialogar com a sociedade sobre o racismo, machismo e misoginia pois é evidente que estes elementos estão presentes nos ataques”.

O Imparcial: Como postulante a uma vaga na ALESP, você acredita que, se eleita, terá mais voz para a luta contra as desigualdades?

Thainara: “Estou à disposição do Partido dos Trabalhadores para enfrentar qualquer missão que resulte na representação dos direitos de todos, se isso se refletirá em candidatura, só o coletivo dirá. Mas sem dúvidas um cargo com proporções estaduais dimensiona a capacidade de atuação de qualquer político”.

O Imparcial: Você pretende acionar a justiça contra as pessoas que te ofenderam em redes sociais?

Thainara: “Mas é claro. A violência deve ser combatida com justiça. Eu disse na Sessão: “lugar de racista é na cadeia”. Eles precisam assumir as responsabilidades pelos seus atos, precisam enfrentar as consequências das suas ações. Toda a forma de violência é crime e isto deve ser resolvido na justiça”, finalizou a vereadora.

Redação

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