A Morada do Sol e a história não contada das mulheres

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Edna Martins *

A história de uma cidade é sempre contada a partir do discurso dos vencedores. É uma forma de aferirmos a realidade. No entanto, há um movimento de historiadores que trabalham com a história dos excluídos. Sem dúvida essa perspectiva pode lançar mais luz à compreensão de nossa realidade.  Só para ficar num exemplo de nossa terra, sabemos mais de nossa própria história graças ao trabalho de Rodolpho Tellaroli que nos contou a história do linchamento dos Britos.

Contudo, a perspectiva dos excluídos é como um grito rouco, sufocado e ouvido somente pelos mais sensíveis, por aqueles capazes de uma escuta ativa que perceba a realidade a partir de diferentes olhares, linguagens e construções. Entre os excluídos da história há muita gente e grupos a serem ouvidos. Os negros, as mulheres, a comunidade LGBTQIA+, os ambulantes, os motoristas de aplicativos, os moradores de rua, enfim, falamos de uma multidão.

Nesse caminho, o que seria a história política de Araraquara contada pelas mulheres que conseguiram furar a bolha da participação na política eleitoral?   Quais obstáculos enfrentaram, quais suas percepções dos rumos da cidade e da política, quais suas pautas? Essa é uma história a ser contada e será.

Por hora trabalhemos com os poucos dados que temos, o Memorial do Legislativo Araraquarense registra que exerceram mandatos de vereadoras: Olinda Montanari, Deodata do Amaral, Helenita Turci, Vera Botta, Edna Martins, Juliana Damus, Márcia Lia, Gabriela Palombo, Geani Trevisoli, Thainara Faria e na atual Legislatura: Fabi Virgílio, Luna Meyer e Filipa Brunelli.

Em Araraquara, em 207 anos de história comemorados neste 22 de agosto, apenas 13 mulheres foram eleitas ao legislativo municipal.  Temos duas deputadas estaduais e nenhuma mulher foi eleita prefeita.

O que essas informações nos revelam? O mundo da política é masculino. Suas regras, seus ritos e formas se adequam ao modelo de vida do homem. A simples entrada das mulheres em campo pode mudar o jogo. No entanto, essa escalação das mulheres, com regras definidas por eles, tem sido muito difícil, com obstáculos dignos de serem enfrentados por atletas olímpicos.

O que essas informações dizem sobre nossa democracia? É uma democracia em construção. Pasmem, e já querem derrubá-la! Para termos uma democracia plena, é preciso, entre outras, garantir a presença de mulheres em condições de igualdade em espaços de decisão.

Araraquara tem mulheres aguerridas, ousadas e corajosas!! Temos mulheres de sucesso nas mais variadas profissões, nas ciências, no esporte, nos negócios, exemplos de dedicação nas instituições assistenciais, somos guerreiras na participação popular, na luta cotidiana por melhores condições para nossas crianças, idosos, deficientes e os vulneráveis, em geral.

As mulheres escrevem todo dia a história de Araraquara. Certamente o fazem com a sobrecarga das heroínas que cuidam dos seus.  É chegada a hora de aprendermos o que nos ensina Emma Goldman, “em todas as épocas, foi por seu próprio esforço que os oprimidos se libertaram de seus senhores”.  Esse esforço é coletivo, tarefa para muitas.

É preciso que a mulher aprenda essa lição, deixemos de lado o que nos separa, agarremos nossa determinação e façamos uma grande aliança. Somos a maioria do eleitorado, e graças ao direito ao voto, e, por meio dele, podemos escolher mudar essa história.

Que nos próximos anos de vida de nossa cidade, iluminem-se as histórias escritas pelos excluídos, aprimoremos nossos laços de comunidade para fortalecer a nossa história. Que a Morada do Sol seja plural e aqueça a todos que vivem aqui.

*Edna Martins é presidente municipal do PSDB, presidente da Federação PSDB/Cidadania de Araraquara, presidente do PSDB/Mulher do Estado de São Paulo e presidente do Cedro Mulher – Centro de Defesa dos Direitos da Mulher.

Redação

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