Hamilton Mendes – Colaboração
Quando chegou em Araraquara, em dezembro de 2003, para assumir o comando do TG-02-002, o então Sargento Rudi Bauer Zytkuewisz, não sabia que a partir daquele instante sua vida mudaria para sempre. Gaúcho de longa história no Exército, Bauer teve passagens pelas forças que atuam na Selva, fez carreira como paraquedista e andou por diversas unidades pelo País, até chegar à Araraquara.
Militar de personalidade forte, mas coração aberto e muita energia e vontade de realizar, o “Sargento Bauer” como ficou conhecido na cidade, chefiou a unidade militar local entre os anos de 2004 e 2007, período que ficou marcado na história do TG.
Logo ao chegar, o novo comandante passou a buscar contato com autoridades e cidadãos locais, com o objetivo de encontrar parcerias para implementar ações no Tiro de Guerra, sempre colocando os atiradores e a unidade à disposição dos hospitais e entidades do município para campanhas e eventos. Passou também a devorar os jornais da cidade, na busca informações a respeito do TG. E em 2005 ele encontrou.
Naquele ano o jornal O Imparcial passou a publicar, aos sábados, a Coluna História e Arte, do jornalista Hamilton Mendes, que trazia pequenos tópicos com passagens da história de Araraquara desde o período imperial.
E entre os textos, alguns relacionados a criação da Linha de Tiro Cívica da cidade nos idos anos de 1911, a mesma Linha que mais tarde, em outubro de 1017 foi incorporada pelo Exército como Linha de Tiro Federal nº 610, ou Pelotão 610. Começava ali a história do Serviço Militar obrigatório do país, e já na primeira hora Araraquara estava presente.
Quase 15 anos depois, em março de 1932, a unidade local foi elevada à condição de Tiro de Guerra, passando a ter status de quartel.
Bauer entrou em contato por e-mail com o jornalista perguntando sobre os textos históricos, visto que o Exército não tem em seus registros detalhes de como nasceram as diversas unidades militares, hoje TGs, espalhadas pelo Brasil afora. Tem, além disso, poucos detalhes sobre o nascimento do Serviço Militar no Brasil, e dúvidas sobre a diferença ente as unidades de Linhas de Tiro e Tiros de Guerra.
O estudo, realizado pelo jornalista utilizando documentos e publicações encontrados nos Arquivos Públicos de São Paulo e de Araraquara, dentre outros textos, se realizou entre os anos de 1998 e 2002, e trazia luz a todos esses aspectos, incluindo publicações, memorando e portarias publicadas pelo Exército desde o final do século 19.
Munido dos textos, Bauer os levou ao comando dos TGS na sede do 2º Exército, na capital, e os encaminhou a um Centro Histórico sediado em Minas Gerais. Menos de um ano depois o TG de Araraquara recebeu a notícia de que era considerado o mais antigo do país em atividade. Bauer recebeu uma condecoração pela iniciativa.
O comandante, então, começou intensa campanha junto às autoridades locais para retomar os eventos em datas comemorativas e caras para a história de Araraquara e do País, como o 9 de julho, o 7 de setembro, os desfiles no 22 de agosto, a comemoração ao Dia da Vitória, dentre outras.
E ele fez mais: estreitou relações com os heróis araraquarenses que lutaram contra os nazistas na 2ª Grande Guerra em território italiano, e os levou para o convívio no TG. Conseguiu apoio da Câmara e da Prefeitura Municipal e construiu, com a mão de obra dos próprios atiradores e voluntários, uma Praça em homenagem a eles diante da sede do TG.
E Araraquara assistiu, a partir de 2006, a retomada de todos os históricos eventos cívicos, com apaixonada participação do 13º Batalhão da Polícia Militar (13º BPM-I), de Escolas do município, populares, vereadores e autoridades estaduais, e até mesmo federais.
Bauer fez o coração do TG pulsar forte e em ritmo acelerado por quatro anos, salvou vidas em incontáveis campanhas para doação de sangue, arrecadação de alimentos, agasalhos e de socorro a diversas entidades, e ou comunidades locais que precisaram de ajuda.
Com o apoio do prefeito Edinho Silva, então em seu segundo mandato, e dos presidentes da Câmara Municipal naquele período, Ronaldo Napeloso e Edna Martins, o comandante fez um trabalho inesquecível a frente do TG-02-002.
Mais tarde, em reconhecimento a sua capacidade, energia e trabalho, Bauer foi comandante da Guarda Municipal de Araraquara, durante o governo de Marcelo Barbieri, atuou no planejamento e execução de diversos serviços de segurança para grandes empresas locais.
Pai amoroso do filho, e orgulho dele, Matheus, esposo e companheiro exemplar do amor de sua vida, a Sra. Ana Luiza, Rudi Bauer foi chamado à presença de Deus há algumas horas. Entendeu o Pai que ele já havia cumprido sua missão. Quem conviveu com ele, e especialmente sua família, nunca vai entender o chamado. Resta agora deixar a este grande homem, duas últimas palavras: “Muito obrigado!”
Últimas homenagens
Militares do 5 CSM, com sede em Ribeirão Preto, se deslocaram à Araraquara especialmente para homenagear o comandante Bauer com a colocação de uma bandeira do Brasil sobre o caixão.
Houve emocionado pronunciamento do oficial Geovani, e da viúva, professora Ana.
Em seguida, o chefe de instrução do TG local, subtenente Tavares tomou a palavra.
O comando da Guarda Municipal de Araraquara também participou ativamente da homenagem, com a presença da comandante da corporação, GCM Zaccaro, acompanhada de dezenas de guardas, que fizeram questão de carregar a urna.
O secretário de Segurança Pública do município, Cel. João Alberto conversou com a família e o prefeito Edinho Silva mandou coroa.
O ex-prefeito, Marcelo Barbieri, ligou para a viúva e prestou sua homenagem. O presidente do TCE, o ex-deputado Dimas Ramalho, mandou representante.