sexta-feira, 22, novembro, 2024

Há 91 anos, Araraquara entrou em guerra

Conheça mais sobre a participação de Araraquara na Revolução Constitucionalista de 1932

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Hamilton Mendes – Colaboração

Entre a madrugada de 9 de julho, passando por todo o dia 10, precipitou-se em Araraquara uma avalanche de notícias sobre a deflagração do movimento revolucionário na capital paulista em defesa da constitucionalização do País. São Paulo se levantava em armas contra a ditadura do Governo Provisório de Getúlio Vargas e dos Tenentistas.

Dois anos antes, sob júbilo e muita comemoração do povo brasileiro, um movimento capitaneado por Getúlio derrubou a Velha República, e suas práticas oligárquicas, instalando um Governo Provisório e prometendo eleições gerais e uma nova constituição.

O tempo passou, e nada de eleições. Pior! O governo Vargas criou a Legião Revolucionária (grupos de civis e militares armados e fieis ao regime que reprimiam quaisquer protestos, e ou movimentos contrários ao poder constituído), os famigerados “fiscais de quarteirão” (civis que espionavam a vizinhança e “deduravam” movimentos “suspeitos” às autoridades policiais) e instaurou o “toque de recolher” (ninguém podia ficar nas ruas depois das 21hs), e baixou a proibição de reuniões com mais de cinco pessoas.   

O povo, farto de promessas e da repressão, decidiu que já era hora de dar um basta naquilo tudo e pegou em armas, deflagrando a Revolução Constitucionalista de 1932. O movimento contava com cinco estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. A ideia era todos se encontrarem nas divisas com o Rio de Janeiro e caminharem juntos para a capital federal.

O plano vazou, e agindo rápido, Getúlio conseguiu intervir nos comandos dos exércitos do Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais. O Rio Grande do Sul recuou, e ficou com Getúlio. O ditador tentou intervir em São Paulo, mas o povo tomou conta das ruas na capital e ganhou apoio do exército e da Força Pública.

O comandante do exército do Mato Grosso, por sua vez, se rebelou e marchou com suas tropas rumo à São Paulo para apoiar o movimento.  

Em Araraquara, a eclosão do processo revolucionário foi manchete da edição de 12 de julho, do jornal O Imparcial: “São Paulo, 11 – (Rádio) – Movimento Constitucionalista – O aviador paulista José Boccacio, acompanhado do civil Mourão, alcançou a capital da República, conseguindo lançar manifestos e 80 kg de jornaes paulistas em plena cidade. Os tripulantes do avião paulista voaram sobre a Avenida Rio Branco a 30 metros de altura”.

O apoio à causa foi imediato, e a população de Araraquara foi às ruas.

No dia seguinte, 13 de julho, os primeiros voluntários araraquarenses seguiram para se integrar às forças que estavam se formando na capital pela constitucionalização do país.

Araraquara, na época uma pequena cidade, mandou para as frentes de batalha 541 de seus filhos. Entre eles, uma mulher, Dna. May de Souza Neves, esposa do Dr. Camillo Gavião de Souza Neves, que seguiu no dia 14 de julho para servir no Serviço Hospitalar para Assistência ao Soldado Constitucionalista.

Além disso, todo o destacamento de polícia do município foi enviado para as frentes de batalha. Em razão de tal fato, coube ao Tiro de Guerra local, que na época tinha a designação numérica 610, e havia sido elevado a condição de Tiro pouco mais de três meses antes (já existia como Linha de Tiro desde 1911), a responsabilidade de fazer o patrulhamento da cidade, bem como, da Guarda da cadeia local.

Três meses depois, ao final do conflito, seis araraquarenses não retornaram: Bento de Barros, Diógenes Muniz Barreto, Tenente Joaquim Nunes Cabral, Waldomiro Machado, José Cesarini e Joaquim Alves. Todos, mortos em combate.

A eles se juntaram Otávio de Oliveira Ameduro, atingido em combate, mas que faleceu tempos depois já em Araraquara, e Augusto Moraes, que não era filho de nossa terra, mas morreu em combate junto com o araraquarense tenente Joaquim Nunes Cabral, com os dois sendo enterrados juntos pelos companheiros de farda.

Em 9 de julho de 1934, a Prefeitura de Araraquara inaugurou no segundo quarteirão do cemitério São Bento, um Mausoléu em homenagem a todos os araraquarenses que se envolveram na epopeia constitucionalista, onde foram enterrados os heróis da cidade que tombaram pela causa.

O Mausoléu ao Movimento Constitucionalista de 1932 encontra-se hoje na 1ª rotatória da Avenida Bento de Abreu, na Fonte, para onde foi transferido no ano de 1972, imortalizando, assim, os épicos momentos vividos pelos araraquarenses da época.

Os despojos dos oito mártires de Araraquara no conflito foram levados para São Paulo no ano de 1967, e hoje repousam no Mausoléu aos heróis de 32, também conhecido como Obelisco do Ibirapuera. O local foi especialmente construído pelo governo de São Paulo para eternizar aquela geração de paulistas que ousou pegar em armas na luta pela construção de um país livre e democrático.

No ano de 2016, depois de movimento nascido entre valorosos militares do 13º Batalhão de Araraquara, nasceu na cidade o Núcleo MMDC Heróis de Araraquara, entidade criada para homenagear a memória daquela geração de brasileiros e araraquarenses que ousou pegar em armas para defender a democracia no País.

Redação

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