domingo, 24, novembro, 2024

Jovens pesquisadores do CDMF recebem reconhecimento internacional

Jovens cientistas brasileiros participaram de encontro com ganhadores do Nobel de Química e são indicados ao prêmio BRICS Young Scientists Forum

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Os trabalhos desenvolvidos por três jovens pesquisadores vinculados ao Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), Marcelo AssisLara Kelly Ribeiro e Juliana Ferreira de Brito receberam relevante reconhecimento internacional.

O doutor Marcelo de Assis e a doutoranda Lara Kelly Ribeiro participaram entre 26 de junho e 01 de julho do 71 Lindau Nobel Laureate Meeting, encontro que reuniu um seleto grupo de 611 jovens cientistas de todo o mundo com cerca de 30 ganhadores do Nobel de Química para o debate de ideias e a troca de experiências.

Com sede na cidade de Lindau, na Alemanha, o evento voltou a ser presencial após ter sido realizado de forma remota por dois anos em razão da pandemia do novo coronavírus. Além de palestras, painéis de discussão e evento social, os jovens pesquisadores tiveram a oportunidade de conversar pessoalmente com premiados do Nobel de Química, entre eles William G. Kaelin, Jr. Donna Strickland, Ben L. Feringa, Elizabeth H. Blackburn e Benjamin List.

A participação dos pesquisadores do CDMF no evento foi custeada pela Columbus Association e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Com sede na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela FAPESP, que recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).

Marcelo Assis

Durante o encontro, o doutor Marcelo Assis foi um 30 dos selecionados entre os 611 participantes para o jantar organizado pela Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG), agência de fomento da ciência na Alemanha, que contou com a participação do Prof. Richard Royce Schrock, vencedor do Prêmio Nobel de Química em 2004 e também do Prof. Jörg Scheneider, diretor de internacionalização da DFG. A seleção é feita com base no currículo dos jovens pesquisadores e foi apresentada a possibilidade a Assis de financiamento de pesquisa pelo governo alemão.

Natural de Rio Claro (SP), com 28 anos de idade, Marcelo Assis já publicou 68 artigos e registrou 3 patentes. Desenvolveu a carreira na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desde a Graduação, Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, desenvolvendo projetos como pesquisador vinculado ao CDMF.

Atualmente, Assis é Pós-Doutorando na Universitat Jaume I, na Espanha, em projeto de parceria internacional do CDMF para o desenvolvimento de novos biocompósitos para aplicação como biomateriais e catalisadores. “Além de ser selecionado para o Lindau, que já foi uma conquista enorme, ter a possibilidade de financiamento da DFG nos mostra que o trabalho que desenvolvi, e continuamos desenvolvendo está repercutindo positivamente no exterior”, comenta Assis.

Lara Kelly Ribeiro

Natural de Monsenhor Gil, no estado do Piauí, com 27 anos de idade, Lara Kelly Ribeiro contabiliza um total de 21 artigos publicados e 2 patentes depositadas para transferência de tecnologia.

Após o encontro em Lindau, Lara foi convidada para um post-conference entre alguns alunos selecionados visando abrir as portas para os participantes do Lindau Nobel Laureate Meeting como futuros pesquisadores na Alemanha. “Este fato é importante observar, pois certamente irá transformar meu currículo. Não sou a melhor pesquisadora do Brasil e nem a melhor entre os 600 selecionados para este evento. Mas, a oportunidade de participar estava aberta e eu fui lá mostrar meu trabalho, deu certo. Agora tenho o título de ex-participante do Lindau Nobel Laureate Meeting no ano de 2022. A seleção é larga, contei com duas seleções. Quando falo que fui selecionada para o Lindau Nobel Laureate Meeting me sinto importante. Ir para o evento me abriu um mundo de contatos. Este evento foi a maior network que eu vivi em anos de pesquisadora”, disse.

Para Lara, participar do encontro foi uma oportunidade única. “Foi uma honra estar presente com tantos ganhadores de prêmio Nobel. No total foram 35 ganhadores, desde químicos, médicos, biólogos e físicos. Ouvir pensamentos visionários me impressiona e me fascina; creio que esse encontro me impulsionou para fazer uma pesquisa mais realista e próxima da sociedade. Porque a maioria das nossas conversas, no Lindau Nobel Laureate Meeting, foram sobre como a sociedade deve se beneficiar com os frutos das pesquisas. Levarei muitos ensinamentos, entre eles: saber que desenvolver pesquisa é um compromisso árduo, e que necessita de muitos investimentos, não se faz ciência sozinho. E detalhe, eu já sabia disso, mas ouvir de ganhadores Nobel, me fez perceber que os alunos de mestrado, doutorado e os pesquisadores em nível de pos-doc são mais que necessários, além dos investimentos dos governos competentes”, declara.

Lara sempre trabalhou com a interdisciplinaridade da química de materiais. Possui formação em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual do Piauí (2016) e mestrado em Química Inorgânica pela Universidade Federal do Piauí (2019). Atualmente é aluna de doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em cotutela com a Universidad Jaume I (Espanha) e integrante do grupo de Cerâmica do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC) vinculado ao CDMF, tendo como supervisores Ieda Lúcia Viana Rosa e Elson Longo, no Brasil; Juan Andrés e Eva Guillamon, na Espanha.  No CDMF, ela teve a oportunidade de trabalhar em pesquisas sobre o uso de semicondutores com propriedades antivirais contra o SARS-CoV-2, semicondutores para limpeza de águas residuais e materiais para catálise heterogênea, entre outros projetos.

Tem experiência na área de Química, com ênfase em Cinética Química, Catálise, Fotocatálise e Luminescência, atuando principalmente nos seguintes temas: síntese de materiais cerâmicos, métodos de síntese, Terras Raras, degradação de poluentes orgânicos e catálise de compostos orgânicos. Entre 2019 e 2022 gerenciou projetos de P&D&I em colaboração com universidades da Espanha, Argentina, Brasil e República Tcheca, além de manter estreita colaboração com UJI e CDMF. Lara também atua em atividades de divulgação científica, a exemplo do Ludo Educativo, uma plataforma interativa de ensino e aprendizagem para todas as idades (http://portal.ludoeducativo.com.br).

BRICS Young Scientists Forum

Marcelo Assis e Juliana Ferreira de Brito foram indicados ao prêmio BRICS Young Scientists Forum. A edição 2022, intitulada “Inspire Youth Potential, Shape BRICS Future”, conta com 4 temáticas principais: Low-Carbon Technology, Biomedicine, Artificial Intelligence e New Material, que foram escolhidas pela China, detentora da presidência rotativa do bloco. O evento acontece entre os dias 29 de agosto e 01 setembro de forma remota. Assis foi indicado na área de New Materials e Juliana na área de Low-Carbon Technology.

Anualmente, no contexto da Reunião de Cúpula do BRICS – mecanismo de cooperação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, são realizadas atividades paralelas na área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), sendo uma dessas iniciativas o BRICS Young Scientists Forum (YSF). A exemplo de edições anteriores, os candidatos são escolhidos pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), devendo ter até 40 anos de idade e doutorado concluído.

“Com a dificuldade que está sendo fazer ciência no Brasil, ser reconhecido nacional e internacionalmente, pode fazer com que portas sejam abertas na minha carreira como cientista e, que, assim eu consiga uma posição fixa de pesquisador futuramente”, declara Assis.

Juliana Ferreira de Brito

Aos 33 anos, Juliana Ferreira de Brito possui 31 artigos publicados, 4 capítulos de livro e 2 patentes. Desde o início do mestrado ela pesquisa materiais para conversão do dióxido de carbono (CO2) em compostos de interesse enérgico, como, por exemplo, etanol. Atualmente, atrelado a pesquisa de redução de CO2, desenvolve projeto que busca por materiais capazes de converter nitrogênio (N2) em amônia (NH3) em condições ambiente. “Estima-se que sejam produzidos 150 milhões de toneladas de NH3 no mundo hoje, consumindo algo em torno de 3 a 5% da energia mundial e gerando quantidades gigantescas de CO2. Nosso objetivo é gerar esse NH3 de forma ambientalmente amigável, ou seja, consumindo menos energia e gerando menos poluentes”, explica Juliana.

Natural de São Paulo, capital, se mudou com os pais aos 11 anos de idade para o interior de Minas Gerais, Três Pontas. É Graduada em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) em 2011, Mestre em Química pela UNESP-Araraquara em 2014 e Doutora em Química pela UNESP-Araraquara em 2018. Fez mestrado sanduíche na University of Texas at Arlington (UTA) no Texas, EUA, e doutorado sanduíche na Università degli Studi di Messina (UniME), na Sicília, Itália. “Depois iniciei o pós-doutorado no CDMF, na UFSCar, onde continuo minhas pesquisas. Nesse meio tempo fui professora substituta na UFSCar. Recentemente passei em 10 lugar no concurso para Professor Assistente na UNESP-Araraquara e aguardo a contratação”, disse Juliana.

Sobre a indicação ao prêmio BRICS Young Scientists Forum, Juliana avalia que fazer pesquisa no nosso país, principalmente nos últimos anos, tem sido um grande desafio. “Um desafio que todos os países que compõem o BRICS também enfrentam em maiores ou menores proporções. Ter o meu trabalho reconhecido dentre os de muitos outros pesquisadores brilhantes, e poder mostrar as minhas realizações científicas para toda a comunidade do BRICS e também fora academia tem um peso profissional e pessoal inexplicável. Isso reforça que estamos no caminho certo e me dá mais energia para prosseguir”.

Redação

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