Por José Augusto Chrispim
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP), homenageará nesta quinta-feira (15), no Auditório da INOVA-USP, em São Paulo, a Professora Dra. Vanderlan da Silva Bolzani por sua contribuição ao Programa BIOTA-FAPESP.
A Professora Vanderlan, que trabalha no Instituto de Química da Unesp de Araraquara há cerca de 40 anos, recebeu o Título de Cidadã Araraquarense, em 22 de maio de 2013. De autoria da vereadora Edna Martins, o reconhecimento obteve aprovação unânime dos 18 vereadores da Câmara Municipal de Araraquara daquela legislatura.
Homenagem
A homenagem concedida pela FAPESP à professora do IQ Unesp de Araraquara contará com nomes importantes no meio acadêmico brasileiro como Marco Antonio Zago, Presidente da FAPESP, Luiz Eugênio Mello, Diretor Científico da FAPESP, Jean Metzger (Coordenação do Programa BIOTA-FAPESP), Carlos Joly (Coordenação do Programa BIOTA-FAPESP), Gordon Cragg, Special volunteer NCI-USA, Dulce Helena Siqueira Silva, IQ-Unesp, Glaucius Oliva, IFSC-USP e Norberto Peporine Lopes, FCFRP-USP.
Projeto Biota-FAPESP
A professora falou com exclusividade à reportagem do O Imparcial sobre a importância do programa Biota-FAPESP e da sua gratidão pela homenagem recebida. Veja a entrevista na íntegra:
O Imparcial: Qual o significado do programa Biota-FAPESP para o desenvolvimento sustentável e para o conhecimento da biodiversidade?
Vanderlan: “O Programa Biota-Fapesp, um dos primeiros programas de apoio à Fapesp nos moldes de submissão dentro do escopo e objetivos traçados pela Coordenação pode ser considerado um marco na pesquisa sobre biodiversidade brasileira. Para viabilizar o estudo de uma biodiversidade tão rica e diversa com sucesso os investimentos dirigidos são vitais. Tem um significado enorme para dar suporte às pesquisas sobre a biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Assim, o Programa Biota teve na sua origem – que tanto me orgulha e envaidece foi fazer parte desta fase de criação. Eram cientistas da UNICAMP, USP e Inst. de Pesquisa e eu a única da UNESP. Muitas reuniões, trabalho, mas valeu a pena. Sou apaixonada pelo Programa Biota, pois mapear a diversidade biológica de biomas importantes é fascinante pela informação científica gerada em vários níveis, pelas colaborações vitais para entender a biodiversidade e para se pensar em bioeconomia de alto valor agregado”.
O Imparcial: Qual a contribuição para uso sustentável da Biodiversidade do Núcleo de Bioensaios, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais – NuBBE – que tem sua sede em Araraquara no Instituto de Química da Unesp?
Vanderlan: “Um valor imensurável que muitos colegas do IQAr não fazem ideia! Foram 25 anos de projetos temáticos de grande monta com todos os amigos e colegas de pesquisa do NuBBE. Com isto se montou laboratórios de excelência, todos que atuam no projeto são completamente independentes e criaram linhas inovadoras. Com isto somos um núcleo reconhecido mundialmente e com forte formação de recursos humanos em todos os níveis (IC, MS, Dr. PDr)”.
O Imparcial: Do ponto de vista da biodiversidade, quais os caminhos que o Brasil precisará seguir para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e de adaptação às mudanças climáticas?
Vanderlan: “Este problema não é acadêmico! é uma questão de políticas públicas sobre a importância da biodiversidade para a sobrevivência humana no planeta. O desmatamento acelerado de florestas equatoriais e tropicais se não for detido como questão de estado, as consequências serão assustadoras. No caso da Amazônia a ilegalidade é danosa não apenas pela perda da biodiversidade em ritmo acelerado, mas pelo que o governo poderia ter de retorno de impostos pelas vias de exploração fundamentada nas pesquisas em áreas estratégicas. Ou seja, no mundo de hoje a ciência é um instrumento poderoso para a economia sustentável”.
O Imparcial: Como a professora avalia as perspectivas para a ciência brasileira?
Vanderlan: “Como Presidente da Academia de Ciências do Estado de SP (Aciesp) entendo que a ciência brasileira vem sofrendo já há alguns anos cortes substanciais o que é uma tragédia dentro do universo das ditas sociedades do conhecimento, sociedade 5.0, num mundo competitivo, cheio de incertezas e uma pandemia que ainda assola o mundo de forma preocupante! Os negacionistas do conhecimento de hoje parecem ser parte ignorante levada feito “gado” de uma indústria que se beneficia deste status tristonho! O Brasil é um dos países mais importantes do hemisfério sul do continente americano. E, por que? pelos investimentos que iniciaram logo após a pós-guerra. Éramos um país agrícola, pobre e ignorante! Foi uma ação coletiva envolvendo estados, cientistas, empresários que houve a partir dos anos 50 o avanço científico e tecnológico que tanto nos orgulha hoje mesmo com tantas dificuldades! Sou otimista por natureza e acredito que teremos ainda dias difíceis, mas, no mundo atual, são vencedores os países que investem muito em conhecimento científico visando novos avanços tecnológicos e inovações inerentes aos setores empresariais”.
O Imparcial: Qual é a importância desse prêmio para a senhora?
Vanderlan: “Ser premiada é sempre motivo de alegria, pois é o reconhecimento de meu trabalho. Já recebi muitos prêmios e homenagens nacionais e internacionais, mas esta, em especial me deixou muito emocionada. Não apenas pelo trabalho realizado com colegas no período anterior à criação do Biota. Tinha uma forte colaboração do o IBt, e aqui destaco a Professora Sônia Dietrich (já falecida). Ela foi quem me levou na 1ª reunião de pesquisadores que discutia o Biota e me introduziu a um grupo de biólogos que não entendiam muito bem o que uma farmacêutica professora de um Instituto de química podia contribuir. Nunca esqueci o nervosismo daquele momento da jovem Vanderlan. Respirei fundo e pensei no meu Orientador Prof. Otto Gottlieb, até hoje minha inspiração e falei que entender o papel dos produtos naturais para a evolução e adaptação das espécies no planeta, não poderemos protegê-la nem fazer uso sustentável, mas porque vem do reconhecimento de meu trabalho pela FAPESP. Escrevi no fascículo 2 do Livro Fapesp 60 anos que a Fapesp é o DNA para a criação das outras FAPES. Mas, para mim, é muito mais. Cheguei em SP com 22 anos e um sonho. Queria ser cientista. FAPESP é parte importante da realização desse sonho! Fui bolsista de MS, Dr. Pós-doc e sempre teve apoio nos inúmeros projetos aprovados. É uma instituição que sinto orgulho de falar em todas as conferências e reuniões. Já tive muitas coisas negadas e isso faz parte da escolha de mérito e competição essencial à excelência acadêmica em todos os níveis”, finalizou a Presidente da Academia de Ciências do Estado de SP.
Quem é Vanderlan Bolzani?
Professora Titular do Instituto de Química da Unesp, Câmpus de Araraquara, com projeção nacional e internacional, Vanderlan é uma das principais especialistas em química de produtos naturais do país.
Vanderlan da Silva Bolzani nasceu em Santa Rita, microrregião de João Pessoa, na Paraíba, no dia 19 de novembro de 1949. Ela é a primogênita de um índio tabajara que priorizava a educação dos seis filhos.
Farmacêutica pela UFPB (1973). Mestre em Química Orgânica pelo Instituto de Química/USP-SP, em 1977, e doutora em Ciências e, 1982, também pelo IQ-USP, bolsista FAPESP. Pós-doutorado no Depto. de Química no Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, USA, bolsista FAPESP, de 1992 a 1994. Foi bolsista do DAAD, estágio de curta duração, Hannover, 1990. Livre-docente pelo Instituto de Química/Unesp (1996) e Professora Titular da mesma instituição em 2005. Professora Visitante na Université Pierre et Marie CURIE (UPMC), Paris VI, Paris, 2011, 2013. Chefe do Depto. de Química do IQ-UNESP, por dois mandatos consecutivos (2000-2004). Membro do Conselho Universitário da Unesp (2002-2006) e do Conselho de Pós-Graduação (2002-2004). Assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa UNESP (2004-2009). Membro assessor do CA-QU, do CNPq de 2008 a 2010; 2018-2020. De 2009-2012 foi Vice-diretora e de 2013-2016 Diretora da Agência de Inovação da UNESP (AUIN). Membro do Conselho Deliberativo do CNPq por dois mandatos (2010-2013 e 2013-2015). Foi vice-presidente (2004 a 2008) e presidente (2008-2010) da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e atualmente é membro do Conselho Consultivo da SBQ. Participou do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 2013-2015 (SBPC), onde atualmente é Vice-Presidente (2017-2019). Membro da International Union of Applied Chemistry (IUPAC), American Chemical Society (ACS), da American Society of Pharmacognosy (ASP), da Society for Medicinal Plant and Natural Product Research (GA) e Fellow da Royal Society of Chemistry, UK (FRSC). Prêmio recebidos Fellow da RCS em 2009, Medalha Simão, Mathias, SBQ em 2011, Distinguish Woman in Science, IUPAC/ACS em 2011, Elsevier CAPES 2013, eleita para a World Academy of Science for Developing Countries (TWAS), 2013, Eleita para a Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2011 e Academia Paulista de Ciências (ACIESP) em 2012. Em 2019 eleita para Academia de Ciências da América Latina. Em 2015, Prêmio Kurt Politzer de Inovação Tecnológica, categoria pesquisador, ABIQUIM. Em 2017 foi agraciada com a Medalha Otto Gottlieb pelas suas contribuições na área de produtos naturais. Em 2018 foi premiada com a Medalha do Mérito Científico, categoria Comendador. Membro do corpo editorial de vários periódicos da área de atuação, entre esses, Natural Products Report (RSC), Journal of Natural Products (ACS), Phytochemistry Letters (Elsevier), Journal of Ethnopharmacology (Elsevier), Open Conservation Biology Journal (Betham Open) e RSC Advances RSC). Em 2012 passa a integrar o Scientific Advisory Board L?Oréal, Paris. Desde 2014, é a representante do Brasil na IUPAC. Membro da coordenação do programa Biota-FAPESP. Presidente da ACIESP, mandato 2019-2021. Foi membro do Comitê Internacional da CAPES, por um mandato de dois anos. É integrante do Núcleo de Bioensaio, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais do IQ-Ar (NuBBE) e pesquisadora 1A do CNPq. Atual membro do Conselho Consultivo da SBQ (2015-2017) e membro do Conselho Superior da FAPESP, mandato 2018-2022. Em agosto/2018, recebeu a Medalha de comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico, durante a última reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília. Desenvolve pesquisa em química de produtos naturais com ênfase para a busca de substâncias bioativas metabólitos secundários e peptídeos, metabolômica e química medicinal de produtos naturais. Formação de recursos humanos em todos os níveis, produção científica atual: 341 artigos (índice h=58, 12.731 citações, média de citação por artigo 28,21; Google Scholar índice h=58, 12.731 citações) 1 livro, 3 capítulos de livros, 4 patentes. Coordenadora do INCT BioNat e Vice-Coordenadora do CEPID-FAPESP CIBFar. (Fonte: Currículo Lattes)