sexta-feira, 22, novembro, 2024

Solenidade marca inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”

No evento, que teve samba e outras manifestações culturais, foi assinada também ordem de serviço das obras na Acaaar

Mais lido

Uma grande festa na manhã do último sábado (8), com samba e outras manifestações culturais, marcou a inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”, que presta homenagem a um dos nomes mais tradicionais da história do carnaval araraquarense. Na solenidade, o prefeito Edinho também assinou a Ordem de Serviço das obras de construção de vestiários e reforma do campo da Associação Cultural Afro Descendente dos Amigos de Araraquara da Região (Acaaar).

A Casa SP Afro Brasil é resultado de um convênio com o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional, no valor de cerca de R$ 971.5 mil, sendo R$ 765 mil de repasse estadual e cerca de R$ 206.5 mil de contrapartida da Prefeitura. O terreno foi cedido pelo município, está localizado na Vila Xavier e será mais um espaço para a construção da igualdade racial e o combate ao racismo na cidade, já que Araraquara possui o Centro de Referência Afro Mestre Jorge.

A Casa SP Afro Brasil é uma iniciativa do governo estadual para implantar equipamentos destinados ao reconhecimento e valorização da história e cultura afro-brasileira, bem como para promoção de políticas públicas de desenvolvimento social e econômico, justiça, cidadania e enfrentamento ao racismo.  Na solenidade de sábado, entre as autoridades, representando Gilberto Kassab, secretário de Governo e Relações Institucionais do Governo do Estado de São Paulo, estava presente Manoel Roberto Martins Filho.

Em seu pronunciamento, Edinho agradeceu as autoridades presentes e todos os servidores municipais envolvidos no projeto de implantação da Casa SP Afro Brasil. “Estou muito feliz de estar aqui hoje eternizando o Bogé neste espaço tão significativo. Estou dizendo neste espaço, porque o Bogé já está eternizado. Não é possível entender a história cultural do povo preto da cidade de Araraquara sem passar pela história do Bogé, por tudo que ele construiu em vida. O seu legado ficou e sua obra é imensa, porque ele foi um dos maiores fomentadores da cultura negra de Araraquara e instituiu o carnaval de rua de Araraquara. E, em nome da memória do Bogé, o carnaval de rua não vai acabar”, declarou o prefeito.

Sobre a ordem de serviço das obras de construção de vestiários e reforma do campo da Acaaar, Edinho reforçou a importância do Orçamento Participativo, lembrando que a obra foi uma demanda eleita na Plenária Temática da População Negra do OP.

“Para que a gente tenha dimensão do que ele representa, OP dá o poder de escolha ao povo. Não resolve todos os problemas, porque sempre escolhemos uma obra e acaba ficando outra. Mas é o processo de devolvermos o poder ao povo. A Acaaar é um símbolo da população preta de Araraquara.  Em outra plenária, foi eleito um espaço que valorizasse as religiões de matrizes africanas. E ele está lá sendo construído e vamos também inaugurar até o final do ano. E tem outro desafio, outra obra que vai acontecer por meio do OP, que é o memorial da população preta de Araraquara. Queremos fazer aqui pertinho; estamos negociando”, garantiu.

Alessandra Laurindo, coordenadora de Políticas Étnico-Raciais, vinculada à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Participação Popular, muito aplaudida pelos presentes, agradeceu o prefeito Edinho que, segundo ela, acreditou no projeto da Casa SP Afro desde o início e trabalhou por ele, assim como também aprovou imediatamente a homenagem a Bogé. Agradeceu nominalmente os secretários municipais e seus servidores envolvidos no processo, além Ivan Lima, presidente do Comitê de Gestão do LIDE Equidade Racial; Gil Clarindo dos Santos, presidente do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra; e Ana Flávia Nunciato, presidente do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo), todos à frente, entre as autoridades na cerimônia.Também agradeceu a equipe do Centro de Referência Afro, o empresário e parceiro Claudio Claudino e a deputada Thainara Faria (PT), autora da iniciativa que garantiu recursos para o mobiliário da Casa.

Sobre o homenageado, Alessandra destacou a importância de Bogé, disse ser cria do Santana e, por isso, desfilou por 8 anos pela Estrela de Vila Santana com a família.

“É preciso valorizar nossa comunidade, nossa raiz. O mestre Bogé, o seu Osvaldo da Silva, representa a comunidade e não poderíamos ter um nome melhor para esse espaço. Seu Bogé faleceu recentemente, no último dia 3 de março, e a família ainda vive o luto. Por isso agradeço demais a família por ter nos dado essa oportunidade de estar aqui hoje”, enfatizou.

Entre as autoridades presentes no evento, também prestigiou a inauguração o Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Dimas Ramalho, que enalteceu a importância da iniciativa. “A Casa SP Afro Brasil representa um espaço de orgulho, resistência, de afirmação e tem que ser a casa de todos. E ninguém mais do que o Bogé para representar tudo isso”, defendeu.

A deputada estadual Thainara Faria  ressaltou em sua fala a importância da união de mulheres e homens pretos. “Só vamos continuar avançando, de fato, quando tivermos união na luta antirracista. Hoje temos aqui a celebração da união”, destacou.

Em nome da Câmara Municipal, o vereador João Clemente (PSDB), presidente da Frente Parlamentar Antirracista, saldou os presentes cantando no microfone o samba Sorriso Negro, de Dona Ivone Lara, acompanhado da plateia. “Muito obrigado a todos aqueles que estão comprometidos em fazer uma modificação na realidade do negro nesse país. O Brasil é preto”, afirmou, mencionando os demais vereadores presentes: Paulo Landim (PT), presidente da Câmara; Aluisio Boi (MDB), Edson Hel (Cidadania) e Fabi Virgílio (PT),

O homenageado

A homenagem a Oswaldo da Silva, o Bogé, abriu a solenidade, com um pronunciamento emocionado de seu filho Carlos Alberto Camargo, representando a família. Casado com Dona Ivone, Bogé teve quatro filhos – Carlos, Valquíria, Marli e Cláudia –, família que sempre o apoiou e o acompanhou na missão de manter viva a chama do samba.

Emocionado, seu filho Carlos destacou o legado do pai: “ Meu pai deixou seu legado vivo para seus filhos, netos e tataranetos, que é a honestidade, a simplicidade. Meu pai tirou muita gente da rua e formou muitas costureiras, além de muitos mecânicos dos carros alegóricos que quebravam antes de entrar na avenida.

Agradeço muito essa homenagem; meu pai também foi homenageado muitas vezes em vida, o que é muito significativo para todos nós. Agradeço demais esse momento, em nome da família Bogé, da qual também faz parte toda a nossa comunidade. Porque Bogé é uma comunidade, que não morreu”, declarou.

Durante toda a vida, Bogé foi pedreiro de profissão e sambista de coração. Seu envolvimento com a arte se deu quando formou e integrou o Trio Sumaré, com Chico e Titico, na década de 1960, que tocava marchas, sambas e outros estilos musicais da época. Com o trio, formou um bloco carnavalesco que cresceu e se transformou na escola de samba “Unidos do Carmo”. Em 1969, Bogé fundou a escola de samba Estrela de Vila Santana, que desfilou por mais de meio século. Em 1978, Bogé ainda fundou o Independente Futebol Clube, do qual assumiu a presidência

Em 2012, devido a problemas de saúde e dificuldades de locomoção, deixou a batuta da escola de samba. Bogé faleceu em 3 de março de 2023, aos 90 anos.

Ao final da solenidade, família e autoridades participaram do descerramento da placa de inauguração da Casa SP Afro Brasil Oswaldo da Silva “Bogé”.

Redação

Mais Artigos

Últimas Notícias