A Secretaria Municipal da Educação adquiriu bonecas negras para todas as escolas municipais. Essa é uma das ações que visam contribuir para a efetivação da Lei 10. 639/2003, no sentido de equipar os espaços escolares com recursos pedagógicos que representem a diversidade étnico-racial que caracteriza o Brasil.
Para a secretária Municipal da Educação, Clélia Mara dos Santos, “brincar é coisa muito séria. Por meio das brincadeiras, as crianças criam histórias, encenam situações vividas, projetam seu futuro, aprendem sobre a cultura e as relações sociais. Os brinquedos, como parte do processo de aprendizagem, têm efeitos duradouros na educação e na formação da criança. Ver a si próprio ou não representado é decisivo na formação das subjetividades, das personalidades. Brinquedos que representam a diversidade étnica são fundamentais para a afirmação da identidade”, destacou. “Portanto, brinquedos que garantam a representatividade importam e fazem toda a diferença na vida das pessoas, sobretudo durante a primeira fase da vida”, continuou a secretária da Pasta.
Clélia ainda destaca que a representatividade não é importante apenas para pessoas negras, mas também para pessoas não negras. “Contribuindo para criar referências afetivas e estabelecer diferentes padrões de relações sociais de respeito que potencialmente os brinquedos e as brincadeiras reproduzem”.
A coordenadora técnica de Estudos Étnico-raciais, Rosires de Fátima Botelho, explica que é de suma importância trabalhar com as crianças o respeito à diversidade sejam elas brancas ou negras. “Trazer para o universo escolar bonecas e outros brinquedos que contemplem a diversidade étnica e representem as diferentes matrizes que deram origem ao povo brasileiro é uma excelente forma de trabalhar a autoestima das crianças pretas, devido à cultura do branqueamento presente em nossa sociedade, rompendo com padrões estéticos impostos”.
A coordenadora destaca que a Secretaria Municipal da Educação possui outras ações em curso, dentre elas, a aquisição de outros recursos, como o Atlas Geocultural da África, além da realização de ações formativas que contribuam para a capacitação e o engajamento das equipes para uma educação antirracista. “Promover ações diversificadas nos mais diferentes aspectos sejam formativos de estudos, pesquisas, leituras que engajem os educadores na construção curricular e práticas que correspondam às demandas de uma escola comprometida com perspectivas educacionais emancipatórias e plurais, combativas ao racismo”.
A diretora do CER Profª Maria da Glória Fonseca Simões, Janaína Patrícia Gonçalves, destaca que a unidade já trabalha numa perspectiva da educação antirracista contando com livros, lápis de cor com diferentes tons de pele e que a recepção das bonecas complementa esse trabalho. “Quando as bonecas chegaram, a escola já havia adquirido alguns outros brinquedos, então, reorganizamos a sala multimeios com vários brinquedos novos e a identificação de algumas crianças foi imediata”.
Segundo ela, as bonecas reforçam a identidade no imaginário das crianças. “A importância delas é enorme por conta da criança ter no faz de conta a possibilidade de se reconhecer, brincar de mamãe e filhinha e ter uma boneca que se parece com ela. Isso é fundamental para a formação da identidade das crianças”.
A professora de Educação Integral da EMEF do CAIC Eng. Ricardo Caramuru de Castro Monteiro, Viviane Joceline Bergamin, salienta que a chegada das bonecas foi marcada por muita emoção entre as crianças. “Muitos olhinhos brilhando e expressões que transmitem emoções difíceis de descrever”. Ela conta inclusive que uma das crianças identificou semelhanças de uma das bonecas com a sua irmã que é agente educacional na unidade escolar. “Quando essa funcionária viu a boneca ficou encantada não apenas com a felicidade das crianças, mas com o fato de poder enviar uma foto dela com a boneca para sua mãe”.
A professora destaca que as bonecas negras fortalecem a representatividade e são uma ferramenta na construção da identidade da criança negra, podendo levá-la a entrar em um mundo onde ela é protagonista. “A falta de representatividade nos brinquedos é uma forma violenta, ainda que silenciosa, de racismo. As bonecas também são uma forma de inclusão, não precisa ser uma criança negra para brincar com bonecas negras. É urgente que as crianças brancas também vivam essa experiência para que se tornem adultos que respeitem as diversidades”, concluiu.