quinta-feira, 19, setembro, 2024

Websérie do IQ da Unesp Araraquara irá homenagear pesquisadores brasileiros

Iniciativa do Núcleo Alquimia quer dar visibilidade a figuras da ciência nacional

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Núcleo Alquimia, projeto de extensão com mais de 30 anos do Instituto de Química (IQ) da Unesp, em Araraquara, formado por alunos, bolsistas e voluntários, irá lançar uma websérie para homenagear cientistas brasileiros. De forma lúdica e “trazendo os pesquisadores do passado” para narrar a história, a iniciativa busca dar destaque para nomes importantes da ciência nacional que, muitas vezes, não recebem o devido reconhecimento. A websérie será lançada em março de 2023, de forma gratuita, tanto no canal do Núcleo Alquimia no Youtube como no Cine Lupo, localizado no centro da Cidade.

Segundo o professor do IQ e coordenador do grupo de extensão, Rodrigo Fernando Costa Marques, a ideia é levar ao conhecimento do público os feitos e a história de cientistas brasileiros que ficaram, de certa forma, esquecidos. “Em um dos primeiros episódios, vamos falar da carreira do Frederico de Marco, que é um cientista de Araraquara pouco conhecido na cidade, mas que é o responsável pela criação da chuva artificial, a patente é dele. Isso é algo que hoje é utilizado de diversas formas ao redor do mundo, mas poucos sabem que é de autoria de alguém daqui”, explica.

O responsável por interpretar de Marco é Lucas Henrique Pereira, estudante de Química do IQ. O aluno, assim como seu personagem, é de Araraquara, e antes da websérie não conhecia a história de Frederico. Ele explica que isso o motivou a estudar e a se aprofundar na trajetória do pesquisador, pois considera crucial saber os detalhes da vida de seu conterrâneo.

“Eu não conhecia ele, então fui estudar sobre sua história para me aprofundar. Eu sempre via na TV como a chuva artificial era feita e não sabia que isso é um mérito de alguém da minha cidade. Pesquisei bastante para ver como eram os trejeitos dele, é um cara sério, o que torna sua interpretação um grande desafio para mim, que sou bem descontraído, mas tudo deu certo e consegui criar e caracterizar muito bem o personagem. É um peso muito grande interpretar alguém como ele, principalmente tendo que representá-lo da forma mais fiel possível e ao mesmo tempo mostrar como as conquistas dele impactaram no mundo acadêmico e científico. São muitos elementos para agregar a um personagem”, revela. 

Outra homenageada da websérie será Enedina Marques, primeira engenheira negra do Brasil. “Ela teve um papel muito importante na construção de hidrelétricas, mas também é bastante esquecida pelos brasileiros. Aliás, quando abordamos a história de personagens da ciência em geral, sempre escutamos sobre Einstein, Marie Curie, entre outros, mas existem diversos cientistas brasileiros com contribuições significativas que acabaram não sendo devidamente reconhecidos. A ideia é valorizar os cientistas do nosso país, e não necessariamente químicos, mas pessoas de diversas áreas”, reitera Rodrigo.

Enedina, por sua vez, será interpretada pela estudante do curso de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp, em Araraquara, Ana Laura Dias Ramos. Ela conta que, ao ler sobre a história da personagem e entender a luta que a engenheira viveu, sentiu-se mais forte e disposta a seguir quebrando as barreiras do preconceito e da desigualdade.

“Eu li um artigo que fala sobre a Enedina e logo de cara me apaixonei por ela. Eu nunca tinha parado para ler sobre referências negras do passado, então assim que vi a história e a luta dela reconheci a importância dessa retomada ao passado. Isso é importante para todos os tipos de minorias e todo mundo deveria ter um momento assim. Por tudo que ela e meus antepassados passaram e, mesmo estando hoje em um cenário diferente, foi algo que me deixou mais forte e ainda mais disposta a entender a situação que estamos e a lutar para que as coisas mudem ainda mais. Ela superou no passado um cenário muito mais complicado para que eu, hoje, pudesse ter uma vivência que ainda tem problemas, mas que é muito mais branda. É importante estar sempre lutando para diminuir as barreiras e alcançarmos a igualdade”, diz a jovem. 

A escrita do enredo foi feita pelo Prof. Rodrigo, e a interpretação dos personagens ficou a cargo dos alunos do Núcleo. Para criar a websérie, eles realizaram um estudo bibliográfico que culminou no destaque para pontos importantes da história dos cientistas homenageados e que puderam ser abordados de forma teatral. O projeto é uma experiência totalmente inédita para o Alquimia que, embora já tenha produzido alguns vídeos, nunca havia passado pela vivência de participar de um projeto com profissionais da área de audiovisual, equipes de filmagem e especialistas na elaboração de projetos educacionais, como é caso de Bruck Olivier, diretor artístico da websérie, e Gaia Maria, diretora de produção da obra. 

“A única forma que eu acredito que podemos viver em mundo mais justo e menos desigual é através da educação. Quando recebi esse convite lá no início do ano, eu tive uma alegria imensa porque o projeto fala justamente sobre isso, sobre como gerar conhecimento e educar as pessoas para que elas possam adotar iniciativas que gerem um mundo melhor. Utilizando elementos lúdicos para facilitar a compreensão das crianças e dos jovens, trazemos o propósito de valorizar a importância da ciência”, explicou a diretora.

Gaia também deu detalhes sobre o processo criativo da obra. Ela conta que tudo começou com o trabalho de pesquisa, entendendo quem eram os cientistas, qual a importância deles e o que representam para a sociedade. “Fizemos esse estudo para saber o que poderíamos pincelar e trazer para os mundos atuais. Quando começamos a identificar os contextos, fomos em busca de trazer elementos do cotidiano atual para prender a atenção e criar engajamento junto aos adolescentes. É uma geração muito tecnológica, assuntos como multiverso, inteligência artificial e algoritmos são importantes para criarmos uma identificação entre o público e a temática”, afirmou.

É dentro desse contexto que estão alguns dos personagens da websérie, como o Pedro Óxido, um ajudante de cientista do futuro interpretado pelo estudante de Engenharia Química do IQ Antônio Carlos de Oliveira Martins: “Ele recebe a Doutora Valência Bond (outra personagem do enredo) para fazer um estudo sobre o multiverso. Como ele é um pouco atrapalhado e um tanto quanto ingênuo, ele pede ajuda para a professora já que ela é uma estudiosa do assunto. Ele também foi o responsável pela criação da inteligência artificial que auxilia bastante na interpretação de informações e na “ciência da coisa”. É um personagem bem extrovertido, interessante e divertido”, avalia.

A estudante de Química do IQ, Jaqueline Molina Gregório, é quem interpreta Valência Bond, a cientista que veio para ajudar na pesquisa de multiversos. A aluna comentou sobre seu papel. “Ela trabalha mais na parte teórica, sem tanto conhecimento do ponto de vista experimental. Extremamente curiosa, Valência escreveu livros sobre o assunto e se impressiona facilmente – mesmo com todo seu renome e anos de trabalho. Ela vem para quebrar um pouco o estereótipo normalmente atribuído a cientistas, que é o de alguém sério e ranzinza. Ela tem um perfil mais falante, é uma personagem totalmente ‘desvairada da cabeça’, conta, entre risos, a estudante.

A peça vem sendo trabalhada desde meados de abril e, após todo período de roteirização, treinamento de atuação e produção, a filmagem foi realizada no final de outubro, na Chácara Sapucaia, em Araraquara. Ao todo, a websérie contará com quatro episódios que irão narrar a história dos cientistas brasileiros de maneira leve e descontraída, que é a marca registrada do Alquimia. Parceiro de longa data do Alquimia, Bruck, que também é professor de teatro, destacou o peso de trabalhar com uma equipe tão diversa e reiterou o caráter desafiador e toda a empolgação que rodeiam a produção.

“Foi um grande desafio desde o início. A ideia da websérie já rolava há algum tempo e esse ano conseguimos fazer acontecer. Por ser algo no formato de vídeo, é tudo muito novo. Apesar de ter uma noção, trabalhar com uma equipe profissional da área de audiovisual é uma experiência nova não só para os alunos, mas também para mim. Tem a questão do tempo, os processos, as planilhas, enfim foi algo muito diferente e desafiador para mim enquanto artista. É um novo experimento que vem dando super certo, tanto que uma segunda temporada da websérie já está sendo pensada. É um projeto que vai atender todas as demandas e vai criar um novo caminho para o Alquimia”, celebrou.

Projetos futuros – Recentemente, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), juntamente com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), divulgou o resultado da Chamada nº 39/2022 para o Programa de Apoio a Museus e Centros de Ciência e Tecnologia e a Espaços Científico-Culturais.

Nele, o professor Rodrigo do IQ teve aprovado um projeto para a aquisição e adaptação de veículos para iniciativas de ciência móvel. O Núcleo receberá R$315.000,00 que serão destinados para a compra de um caminhão baú a ser utilizado pelo Alquimia em um projeto de ciência sobre rodas, que irá permitir que o conhecimento e a arte gerados pelo Alquimia tenham um alcance ainda maior. 

Criado em 1988, o “Núcleo de Teatro Alquimia” é um Projeto Permanente da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) da Unesp e tem como objetivo incentivar o interesse pela Química entre o público jovem e destacar o papel central dessa Ciência no desenvolvimento do mundo moderno, mostrando que as transformações da matéria realizadas pela sociedade só foram possíveis graças aos conhecimentos da área. 

A equipe já realizou centenas de apresentações e conta com dezenas de peças produzidas ao longo dos anos, levando arte para milhares de pessoas, tudo de forma gratuita. O Núcleo normalmente se apresenta em escolas, congressos científicos, centros comunitários, feiras de profissões e em eventos em geral. 

Para solicitar apresentações ao Alquimia, basta entrar em contato pelo e-mail alquimia.iq@unesp.br.

Foto: Henrique Fontes/Assessoria de Comunicação do IQ/Unesp

Redação

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