José Augusto Chrispim
Quando se pensa em coco fresco em Araraquara a primeira imagem que vem à cabeça é a do Ponto do Coco do Português, localizado na esquina da Avenida Barroso com a Rua Imaculada Conceição (Rua 12), na região central da cidade. Mas, não são só cocos e quitutes que se encontra no local, o que mais chama a atenção de quem passa é a alegria estampada nos manequins e outros adereços, além das frases escritas na parede e em pequenos quadros que procuram levar alegria ao dia de quem por ali passa.
Mensagem
Falando à reportagem de O Imparcial, Jurandir Ferreira Gomes, mais conhecido como ‘Português’, ressalta que mais que um local onde as pessoas param para se refrescar com seus cocos sempre gelados, a intenção sempre é a de passar alegria e uma mensagem de esperança. “Quando me mudei para esse local, há cerca de 13 anos, ocorriam muitos acidentes nesse cruzamento devido à falta de sinalização e aos vários buracos que existiam no chão. Pensando em uma forma de pelo menos reduzir os acidentes, eu comecei a escrever frases como: ‘Cuidado, buraco em fase de crescimento’ ou ‘Parabéns Araraquara pela estação do metrô buraco fundo’. Essa foi uma forma que eu encontrei para tentar evitar esses infortúnios e, com isso, o local começou a ficar conhecido por moradores de outras regiões da cidade que passam por essa importante via de acesso. Mas, além das mensagens de alerta, durante o atendimento dos meus clientes eu tento sempre levar alegria e uma mensagem de otimismo, pois fico feliz quando consigo tirar um sorriso de alguém que passa e acha engraçado os manequins que ficam na calçada recebendo de uma forma diferente quem chega”, destaca o comerciante, de 57 anos.
Área verde
O comerciante, que se diz um apaixonado pelos animais, também mantém uma área verde de 700m/2 que fica ao lado da pequena lanchonete, onde mantém várias aves, entre elas, 2 perus, 2 gansos, 4 galinhas de angola, 4 garnisés, além de 24 filhotes entre perus e garnisés.
Português lamenta que, na semana passada, foi visitado pela fiscalização da prefeitura que foi ao local averiguar uma denúncia de maus tratos que estaria ocorrendo com os seus animais. “Eu não entendo como alguém pode fazer uma coisa assim. Trato meus bichinhos com carinho e nunca faltou nada para eles. Gasto cerca de R$ 150,00 por semana com ração. Os filhotes logo vão embora, mas eu não dou para abate, mas só para quem gosta de criar também. Já tenho 45 assinaturas de moradores dos arredores que são testemunhas que aqui não há maus tratos com nenhum animal. Eu vou anexá-las à minha defesa que está sendo feita por um advogado amigo meu. Mas, se precisar, eu consigo até mil assinaturas. Os vizinhos lembram que quando eu comecei a mexer nessa área ela era apenas uma casa velha que servia como ninho de ratos e escorpiões. Hoje o local é limpo todos os dias e nenhum vizinho reclama mais de presença de animais peçonhentos”, relata.
Burocracia
Português lembra que já desenvolveu várias atividades comerciais no local, como carrinho de lanches e até um brechó de móveis usados. “Eu sempre trabalhei para me sustentar e tentei tudo o que estava ao meu alcance, mas a burocracia sempre me atrapalhou. Quando eu tinha um brechó aqui vieram me proibir de trabalhar, por que queriam que eu tivesse nota fiscal das mercadorias. Como eu teria nota, se comprava as peças de particulares e era tudo usado? Quando tive carrinho de lanches também tive que parar por causa das fiscalizações da prefeitura. É muito difícil trabalhar de forma autônoma em Araraquara”, reclama Português.
Superação e alegria
O comerciante tem vários problemas sérios de saúde, mas diz que nunca deixou de lado a felicidade e a fé. “Eu tenho um problema sério no coração e, há dois anos, peguei uma infecção na perna e por pouco não tive que amputá-la. Em decorrência da infecção tive uma parada cardíaca, um AVC, e sofri 8 cirurgias, além de ter sido desenganado pelos médicos que achavam que eu não resistiria. Me deram prazo de vida de 4 anos, mas já faz 7 anos e continuo firme e trabalhando. Hoje trato um câncer no intestino também e logo devo passar por outra cirurgia. Eu tenho sofrimentos, tenho dor, mas entendo que não posso passar a minha cruz para ninguém. Eu tento sempre passar alegria. Fé não é o que você fala, mas o que está dentro do seu coração”, finalizou o comerciante.