A quantidade de chuvas registrada no último mês de dezembro superou as médias históricas e é considerada fora do normal por profissionais da Defesa Civil e meteorologistas. Em Araraquara, o mês teve 507 mm de chuvas, mais que o dobro da média histórica de 242 mm (109% acima).
Foi o maior volume pluviométrico dos últimos anos: os registros da Defesa Civil Municipal apontam 326 mm em dezembro de 2017, 192 mm no mesmo mês de 2018, 194 mm em 2019, 360 mm em 2020, 153 mm em 2021 e os 507 mm de 2022.
Segundo o órgão, choveu 200 mm durante o último dia 28, data em que trecho da Avenida Padre Francisco Salles Colturato (Avenida 36) cedeu e ocorreu a tragédia envolvendo um veículo que caiu no Ribeirão das Cruzes, com seis vítimas fatais.
Naquele dia, entre as 19h30 e as 20h30, foram registrados 83,2 mm de chuva, o que representa 83,2 litros de água caindo em cada metro quadrado de área somente naquela hora.
José Carlos Figueiredo, meteorologista do IPMet, Centro de Meteorologia de Bauru ligado à Faculdade de Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), classifica que o volume de chuvas registrado em Araraquara não é comum. “Não é um valor normal. É considerado uma anomalia para o mês, apesar de estarmos em uma estação chuvosa”, afirma.
A própria cidade de Bauru, onde fica sediado o IPMet, também registrou índices próximos: chuvas 77% acima da média histórica e o segundo dezembro mais chuvoso desde 1981, perdendo apenas para 2020 — em Araraquara, dezembro de 2022 superou o mesmo mês de 2020.
De acordo com o IPMet, as últimas chuvas são provenientes de passagens de frentes frias pelo estado, pela formação de chuvas convectivas, causadas pelo forte calor e alta umidade atmosférica, e pela presença das ZACAS (Zonas de Convergência do Atlântico Sul), caracterizadas pelo encontro das frentes frias vindas do sul do continente e que formam extensas faixas de nuvens, mantendo o tempo chuvoso por alguns dias na região Sudeste do Brasil.
Figueiredo, do IPMet, também destacou que o volume de chuvas acima do esperado reforça a necessidade de se ficar atento para a realização de obras e outras ações de prevenção de novos desastres e transtornos nos municípios.
Em reunião do prefeito Edinho com o Governo do Estado, na quarta-feira (4), representantes de outras cidades de São Paulo (Bertioga, Cajamar, Capivari, Monte Mor e Rafard) também apresentaram danos causados pelas chuvas acima da média e pediram ajuda estadual. São Carlos, Guatapará e Socorro são outros exemplos de municípios afetados pelos temporais.
Recuperação
Em visita a Araraquara na quinta-feira (5), o ministro da Infraestrutura e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, disse que as mudanças climáticas são um desafio para os gestores e para a população.
“A cidade tem uma boa infraestrutura e, ao mesmo tempo, as mudanças climáticas acabam desafiando essa infraestrutura e causando um desastre que merece resposta imediata”, afirmou. Para o ministro, os registros de chuvas em Araraquara em dezembro “desafiam os agentes políticos, aqueles que trabalham com Defesa Civil e a sociedade em geral”.
Waldez esteve no município com o ministro das Cidades, Jader Filho; o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff Barreiro; o secretário nacional de Habitação, Alfredo Eduardo dos Santos; o secretário nacional de Saneamento substituto, André Galvão; e o diretor de Obras de Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), Paulo Falcão.
Jader Filho colocou o Governo Federal à disposição da Prefeitura para colaborar nas obras de prevenção. “O prefeito Edinho, com sua equipe, vai levantar todos os pontos que podem ainda acontecer qualquer tipo de problema para que o Ministério das Cidades, em processo de prevenção, possa também agir”, declarou o ministro.
Monitoramento
O gerente responsável pela Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil, Luiz Dell’Acqua, também destaca a força impressionante das águas neste verão. “É o pior cenário desde minha entrada na Defesa Civil, pelas mortes e também pelos danos que foram ocasionados”, afirma. Dell’Acqua está há 13 anos no órgão municipal.
O especialista reforça que o fato de o tempo permanecer nublado, sem abertura de sol, causa preocupação em relação às estruturas que sofreram erosão, já que a terra continua encharcada. A Defesa Civil Municipal segue monitorando todos os pontos, com maior atenção na Avenida Francisco Martins Caldeira Filho, no Parque São Paulo, para que a cratera não atinja as residências localizadas no entorno.
Pontos interditados
No final da tarde desta sexta-feira, Araraquara possuía oito pontos interditados total ou parcialmente devido aos danos causados pelas chuvas: Avenida 36, próximo à Unip; Rua Nove de Julho (Rua 2), na altura do Parque do Botânico; Rodoanel Norte-Oeste Dr. Otávio Arruda Camargo, que margeia o Parque Botânico e acessa a Rua Gennaro Granata; Avenida Francisco Martins Caldeira Filho, próximo ao número 790, no Parque São Paulo; Rua Armando de Salles Oliveira com a Rua José Palamone Lepre; Rua João Peroni com a Rua Professora Rivadávia Marques Júnior, no Jardim Dom Pedro; ponte na área rural ARA-333 (desvio do pedágio da Rodovia Washington Luís, após a Chácara do Nelson); e ponte da Avenida Dr. Carlos Alberto Calseviano, no Jardim Residencial Vale do Campo.
Depois de passar por recuperação asfáltica pelas equipes da Secretaria de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana, a Avenida José Barbanti Neto, na altura do condomínio Altos do Jaraguá, foi liberada para o trânsito nos dois sentidos.
Mais informações e atualizações constantes sobre a situação das vias de Araraquara podem ser encontradas no site (www.araraquara.sp.gov.br) e nas redes sociais da Prefeitura.