segunda-feira, 20, maio, 2024

Hacker de Araraquara deixa cidade em avião da Polícia Federal para depor em Brasília

Walter Delgatti Neto deve conceder depoimento amanhã, às 9h, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura o golpe de Estado tentado pela extrema-direita

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O estudante de Direito Walter Delgatti Neto, ou o hacker de Araraquara, como ficou conhecido, deixou a cidade nesta manhã em um avião da Polícia Federal. Ele estava preso na Penitenciária de Araraquara e tem depoimento à Polícia Federal em Brasília marcado para as 13h30 desta quarta-feira (16).

Delgatti pretende ficar calado ante o delegado Flávio Vieteiz Reis, que é o coordenador do inquérito destinado a apurar os atos antidemocráticos e a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça.

Foi ele quem comandou a operação deflagrada na última semana na qual foi preso o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques. Nem Delgatti, nem o advogado dele, Ariovaldo Moreira, confiam na isenção do delegado federal para tomar o depoimento. Em 2019, no curso do hackeamento das mensagens trocadas entre os procuradores da finada “Operação Lava Jato” e o ex-juiz (considerado parcial) Sérgio Moro, Flávio Vieteiz Reis teve mensagens suas copiadas e abertas por Walter Delgatti. Elas integram o rol de provas coletadas pela “Operação Spoofing”, que prendeu o hacker em Araraquara quando a PF estava sob o comando de Moro (então ministro da Justiça do trágico governo de Jair Bolsonaro).

Reis usou uma manobra operacional para tomar o depoimento de Delgatti hoje, driblando a presença física do advogado Ariovaldo Moreira em Brasília: ontem à noite, um agente ligado a ele entrou em contato com Moreira perguntando se ele desejava receber um link para acompanhar à distância a oitiva com o cliente – pois ela se daria na sede da PF em Brasília e, como o depoimento fora marcado àquela hora (ou seja, sem prazo para a preparação da defesa), o advogado estaria em Araraquara. “Estou em Brasília e acompanharei o meu cliente pessoalmente”, informou Moreira. Deu-se, então, um certo desassossego no escritório do delegado encarregado do caso e responsável pelo atual encarceramento de Walter Delgatti. O hacker tem pouso previsto para as 12h30 na capital da República, em jato da Polícia Federal, e ficará custodiado na sede da PF até o depoimento que deve conceder amanhã, 5ª feira, às 9h, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura o golpe de Estado tentado pela extrema-direita contra as instituições democráticas brasileiras em 8 de janeiro. “À CPMI, o meu cliente pretende falar. Pretende. Ele tem uma história para contar. Porém, não há motivo algum para ele estar preso, e o responsável pela prisão indevida dele é o delegado Flávio Reis”, disse Ariovaldo Moreira na manhã de hoje, enquanto rascunhava providências legais para garantir a Delgatti a liberdade para falar e, sobretudo, a possibilidade de sair do atual encarceramento. “Walter está colaborando com a Justiça, tem dado todo o caminho da apuração para quem deve investigar a forma como ele foi cooptado por pessoas que podem ter agido contra as instituições democráticas. Não é justo que esteja privado da liberdade de ir e vir, de trabalhar, de procurar trabalho, de sobreviver”, assevera o advogado em seu protesto.

O Código de Processo Penal Brasileiro não prevê a figura da suspeição de delegados. Na prática, é a isso que a defesa d’”O Hacker de Araraquara” pretende recorrer – fazendo uma leitura por analogia do artigo 107 do CPP, que se refere a juízes – para tornar público o desconforto de Walter Delgatti Neto em depor para o delegado Flávio Reis. Há evidências seguras, segundo o advogado do hacker, de que Delgatti foi monitorado sob determinações de Reis até que cometesse algum ato que fosse compreendido como descumprimento de determinações legais e novamente o levassem à cadeia. Quando o hacker voltou a ser preso da última vez, no início deste mês, Flávio Reis tomou um depoimento “informal” do hacker, em São Paulo, sem a presença do advogado dele nem de defensores públicos ou do ministério público. Nesse depoimento “informal”, Delgatti contou o que pretende falar à CPMI, amanhã. Contudo, passou a não ter mais confiança na relação que poderia ter criado com o delegado federal. Na compreensão da defesa do hacker, Flávio Reis pode estar querendo “esquentar” as informações que obteve no depoimento informal e indevido.

Redação

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