Um evento na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, na noite de segunda-feira (25), Dia da Mulher Negra Latino Caribenha e Tereza de Benguela, marcou a entrega do Prêmio Doutora Rita de Cássia Ferreira e homenageou dez mulheres negras de destaque em Araraquara.
A atividade integrou a programação “Julho das Pretas”, realizada pela Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (por meio das coordenadorias de Políticas Étnico-Raciais e Políticas para Mulheres) com apoio da Coordenadoria de Acervos e Patrimônio Histórico, do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo) e do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres.
Receberam o Prêmio Doutora Rita de Cássia Ferreira 2022 as mulheres Tatiana Faustino dos Santos, Suzete Cristina de Carvalho, Estela Maris da Silva de Mello, Elisa dos Santos Rodrigues, Daniela Costa, Iyabo Saidat Lawal, Maria Gorete dos Santos Neta, Ana Flávia Rodrigues, Viviane Cristina Ferreira e Rosimeire Motta (confira abaixo as biografias).
“Depois de séculos de escravidão e exclusão social da população negra no nosso País, é obrigação do poder público promover políticas públicas de enfrentamento ao racismo. A construção da igualdade deve partir de todos nós diariamente. Uma luta incansável por um Brasil mais justo e humano. Parabéns a todas as mulheres que aqui hoje estão sendo reconhecidas por suas trajetórias profissionais e sociais, na defesa de uma sociedade mais justa e sem preconceito e racismo”, afirmou o vice-prefeito e secretário do Trabalho, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Damiano Neto, que representou o prefeito Edinho na solenidade.
Alessandra Laurindo, coordenadora de Políticas Étnico-Raciais, parabenizou as premiadas, citando detalhes da luta pessoal de cada uma delas. Alessandra ainda destacou que o prêmio foi instituído por decreto municipal, em 2016, mas a partir deste ano também é lei municipal. “Pode vir o governo que vier, esse prêmio não ‘virá por água abaixo’”, declarou.
A coordenadora de Políticas para Mulheres, Grasiela Lima, ressaltou a força política da solenidade e parabenizou todas as homenageadas, além de agradecer a toda a mesa formada por autoridades que “estão engajadas em melhorar as condições de vida e enfrentar toda essa desigualdade que temos em nosso País”.
A presidente do Comcedir, Ana Flávia Nunciato, destacou a noite histórica para Araraquara. “É um momento muito importante. Hoje é nosso dia, mulher preta. É muito importante a presença de cada uma de vocês”, declarou.
O vereador Guilherme Bianco (PCdoB), integrante da Frente Parlamentar Antirracista, parabenizou a organização do evento pelo reconhecimento às mulheres premiadas. “Acho muito bonito esse tipo de homenagem. A gente vê muita homenagem em nome de rua, nomes de prédios públicos, a pessoas com quem a gente não conviveu. Quando a gente homenageia pessoas que nos inspiram no dia a dia, isso é de extrema felicidade”, afirmou.
Luciene Ferreira, irmã de Rita de Cássia Ferreira, que dá nome ao prêmio, também falou sobre o simbolismo da data. “Agradeço por todo o carinho que essa homenagem representa para a minha família. Um abraço caloroso para todos vocês, em especial para essas mulheres lindas e maravilhosas.”
Também estiveram na solenidade a secretária de Direitos Humanos e Participação Popular, Amanda Vizoná; a secretária da Educação, Clélia Mara dos Santos; coordenadores e gestores municipais; além de familiares das homenageadas.
Antes do evento, o painel “Mulheres Negras que fazem a história” foi inaugurado no muro da Biblioteca Municipal, homenageando Sueli Carneiro, Conceição Evaristo e Márcia Tânia Alves. O trabalho, em grafite, é do artista plástico araraquarense Aracê.
Rita de Cássia
Rita de Cássia Ferreira nasceu em Marília, em 1965, mas foi em Araraquara que passou grande parte da vida, advogando e militando pelos direitos da mulher negra. De família pobre e negra, lutou muito para realizar seu sonho de fazer faculdade, formando-se advogada em 1991.
Sua carreira foi pautada pela defesa das minorias e pelo combate ao racismo e à discriminação religiosa. Presidiu a Comissão da Igualdade Racial da OAB Araraquara, foi voluntária do SOS Racismo do Centro de Referência Afro e integrante do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo) e do Intecab (Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira).
Seguindo os exemplos de sua bisavó Marina, sua avó Pedrina e de sua mãe Marina, tornou-se uma mulher negra consciente de sua posição e da necessidade de lutar para que fosse reconhecida e respeitada por todos. Rita de Cássia faleceu no dia 6 de junho de 2016.
Confira a lista de homenageadas no Prêmio Rita de Cássia Ferreira 2022:
Tatiana Faustino dos Santos
Filha de Helio Faustino dos Santos, sargento da Polícia Militar em Araraquara, e Guiomar Candido dos Santos, que foi ativista do samba araraquarense. Mãe solo de Victoria, seu grande orgulho. Sua trajetória enquanto comerciária trouxe alegrias, porém também as agruras implícitas pelo racismo estrutural. É batalhadora no ramo que atua, procurando se destacar pela simpatia e pelos exemplos deixados pelos pais.
Suzete Cristina de Carvalho
Filha de Geraldo de Carvalho, que foi tratorista na Usina Tamoio, e Dulce Salvador de Carvalho, que foi professora. É graduada em Pedagogia pela UNESP e professora na Escola Estadual “Florestano Libutti”, em Araraquara. Participou de grupos de estudos afrodescendentes, palestrou sobre o Dia da Consciência Negra e participou de diversos projetos pedagógicos.
Estela Maris da Silva de Mello
Educadora social, atua principalmente com o público de maior vulnerabilidade social, incluindo, hoje, o Programa Filhos do Sol, programa este que visa a garantir o direito à renda mínima e a inclusão de adolescentes e jovens entre 12 e 21 anos de idade que se encontram em situação de extremo risco pessoal e social. Estela foi formada pelas Oficinas Culturais Municipais e, desde então, transfere seu aprendizado, devolvendo para a sociedade práticas de cidadania ativa. Atua também como professora de artesanato nos Cras (Centros de Referência da Assistência Social) e entidades filantrópicas, ampliando repertório cultural e possibilidades de geração de renda a quem mais precisa
Elisa dos Santos Rodrigues
Filha de Ortelina Maria Rodrigues e Durval dos Santos Rodrigues, casada com Marco Ferreira dos Santos. Formada em Pedagogia, pós-graduada em Educação Inclusiva, luta pelos direitos das pessoas com deficiência, negros, mulheres e idosos. Participou como membro consultiva da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB de Araraquara. Foi assessora especial de Políticas para Pessoa com Deficiência em Araraquara. Atualmente integra o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência em Araraquara.
Daniela Costa
Empreendedora e esteticista com especialização em pele negra, massoterapeuta, reikiana e terapeuta natural. Desenvolveu o projeto Estética Periférica e é membro do Imani – Cabelos e Estética, que desenvolve diversos projetos relativos à beleza da mulher negra.
Iyabo Saidat Lawal
Exerce a profissão de cabeleireira há 13 anos e está no Brasil desde 2007. Especialista em todos os tipos de tranças, com destaque para tranças Didi, Twists, Crochet Braids. A profissional também faz alisamentos e implantes capilares. Grande empreendedora, Iyabo procura sempre se atualizar em sua função e na gestão do seu negócio, ampliando para além do salão as vendas dos produtos mais procurados pelas clientes.
Maria Gorete dos Santos Neta
Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Mogi Mirim (1990). É especialista em Linguística de Texto e Ensino pela Unesp/Araraquara (2001). Atuou como gestora de Políticas Públicas na área de Combate à Violência contra as Mulheres, junto ao Centro de Referência da Mulher “Heleieth Saffioti” (2000-2003). Tem experiência como docente no Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos. Atualmente é diretora de escola da Prefeitura Municipal de Araraquara, atuando na Gestão Escolar na Educação de Jovens e Adultos.
Ana Flávia Rodrigues
Produtora cultural, proprietária da empresa Mengaí Ngoro Produções Culturais, percussora do Teatro Negro, ativista da Arte e Cultura Negra, produtora do Baile do Carmo 2022.
Viviane Cristina Ferreira
Filha de Fátima Maria e Ismael Ferreira. É ativista do movimento hip-hop, cantora de rap e dançarina de break. Primeira B-Girl Negra de Araraquara. Foi oficineira de break e professora social da cultura hip-hop, palestrante no CR (Centro de Ressocialização) e na Fundação Casa. Atualmente trabalha com cultura afro e é multiartista. É graduanda de Serviço Social e se aprofunda nos estudos da cultura hip-hop entre outros gêneros, aperfeiçoando práticas e desenvolvendo performances.
Rosimeire Motta
Filha de Dercy Motta e Dirce Barboza Motta, casada com Osvaldino Machado. É formada em Direito pela Universidade de Araraquara com pós-graduação em Direito Processual do Trabalho pela Universidade Anhanguera. Advogada no escritório de advocacia Conde Prisco Advogados, atuando em mais de 800 processos na área Cível, Trabalhista e Previdenciária.