segunda-feira, 20, maio, 2024

Violência e política

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Luís Carlos Bedran

Luís Carlos Bedran*

Ao longo dos anos, muito tempo mesmo, nos quase 2.000 artigos e crônicas,
entre tantos que já escrevi, por diversas vezes discorri sobre violência e política devido
à minha formação jurídico-sociológica. Mas não necessariamente vinculadas entre si.
De um lado o Direito, uma ciência, o conjunto de normas que vigem num
Estado, estabelecidas pelos cidadãos, representados pelo Legislativo e Executivo que,
por uma Assembleia Constituinte, criaram uma Constituição a que todos devemos
cumprir. De outro, a Sociologia, também uma ciência, cuja finalidade é o estudo do
comportamento humano em função do meio, a interligação entre as pessoas e a
sociedade de um modo geral.
Violência e política, temas geralmente independentes. No entanto, de uns tempos
para cá, que culmina nesta eleição presidencial, numa indiscutível disputa entre dois
polos de extrema radicalização, não se pode deixar de perceber a existência dessa
ligação entre violência e política.
A parecer que existia entre nós uma violência represada, contida, implícita,
sempre controlada pelas instituições, mas que agora veio à tona, explodiu, a ponto de os
cidadãos, embora justificadamente indignados e revoltados por uma série de motivos,
perderem o senso de civismo, de responsabilidade fundamentais numa sociedade
civilizada democrática. E partirem para a violência, qualquer que seja o aspecto, moral
ou física, exacerbada pela ampla rede de comunicações, quando numa disputa política
normal isso nunca deveria haver, pois as pessoas não são inimigas. Quando muito,
adversárias.
Não é preciso dizer que tais atitudes vão contra os princípios democráticos que
se desenvolveram, após muitas lutas, em todo mundo e há vários séculos, desde a
Revolução Francesa, passando por tantas outras e por duas guerras mundiais,
culminando na Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela ONU em
1948.
Parece que estamos a voltar à barbárie, o que dá a impressão que nós, brasileiros,
não somos assim tão pacíficos como alguns historiadores e nós mesmos acreditávamos.
Já passamos por crises políticas piores, muito mais graves do que essa que estamos a
passar e até mesmo violentas, desde a Primeira República, logo após Independência em

1889, passando pela República Nova, da Ditadura Vargas, de 1930 a 1945 e, depois, a
Constituição de 1946, do Movimento de 1964, até a atual Constituição de 1988.
Será que voltaremos ao passado? Não temos conhecimento, de meio século para
cá, que os cidadãos estivessem tão ouriçados como estão, radicalizando posições,
incentivados ou não por líderes populistas.
É preciso que todos tenhamos, nesses tempos sombrios, ponderação em nossas
atitudes, independentemente do controle do Estado pelas nossas instituições, que, ainda
bem, cumprem rigorosamente nossa democrática Constituição.

*Sociólogo e advogado

Redação

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